domingo, 27 de dezembro de 2009

Oração Árabe de Ano Novo


" Que as pulgas de mil camelos infestem o meio das pernas da pessoa que pense em arruinar o seu ano, e que os braços dessa pessoa sejam curtos demais para se coçar. Amém! "
(autor desconhecido)

domingo, 29 de novembro de 2009

Coisas das Arábias

O Reino da Arábia Saudita é o maior país árabe; grande parte dele é só deserto. Jeddah é uma cidade muito rica onde paga-se zero de impostos. A lingua oficial é o árabe mas existe boa vontade por parte do povo para se fazer entender quando o inglês falha ou quando não existe. Algumas vezes me comuniquei através de mímica e adivinhações. Em uma tarde quente de verão, a comunicação falhou com o açogueiro do supermercado Al Raya. Eu só queria saber se a carne ofertada era de ovelha. Apontei para a peça de carne suspeita e soltei um balido com um sonoro mééé. Além do atendente esclarecer minha dúvida ainda caímos na risada.

O valor dos automóveis na Arábia Saudita é bem menor que no Brasil. Carros novos, grandes, espaçosos e luxuosos transitam pelas ruas do país. Ter um carro grande é artigo de primeira necessidade, já que os árabes precisam transportar suas populosas famílias compostas de mais de uma esposa e muitos filhos. Curioso é que os proprietários destes veículos não retiram o plástico dos bancos quando saem das lojas. O interior do automóvel fica protegido com estes plásticos por anos. Depois de se estragarem são substituídos por plásticos novos, alguns mais resistentes. Provavelmente assim eles sentem-se mais à vontade para sujar os carros sem dó algum.

Tenho verdadeira aversão por passar roupa. E evitando passar por este tipo de trabalho forçado em solo arábico, não me dei nem mesmo ao trabalho de adquirir um ferro e uma tábua de passar roupas. Existem lavanderias aos borbotões em Jeddah. Por um preço módico as roupas voltam limpas e super bem passadas em cabides que vão diretamente ao armário. Uma glória! Detesto passar roupas assim como detesto varal de roupas. Da máquina de lavar as roupas deveriam tomar o rumo da máquina de secar. Para a alegria das donas de casa, máquinas revolucionárias de lavar e secar dois em um já circulam nas lojas e lares do mundo com valores cada dia mais acessíveis. Outra glória!

Os salões turcos para o público masculino cortar o cabelo e aparar a barba em estilo Maomé também existem em abundância pela cidade e são muito bons. Durante as rezas, e do meio dia às 17hs, eles fecham suas portas e não atendem ninguém, assim como o restante do comércio. O grande movimento acaba sendo no período na noite, após a última reza, chamada de isha. A cidade fica muito movimentada e o trânsito tremendamente caótico após a isha. Não tem jeito! A cidade para cinco vezes ao dia para escutar o maior hit das arábias. O som sai dos alto-falantes instalados nos minaretes das mesquitas e pelos meios de comunicação do país. A reza lidera o top ten nas Arábias!

Os sauditas não gostam muito de trabalhar. Ganham a vida com a mão-de-obra do trabalho de outras nacionalidades. Todo negócio tem que ter, obrigatoriamente, um sócio e um percentual de funcionários sauditas. A maioria destes sauditas nem aparece para trabalhar, mas nunca deixam de receber seus pagamentos. Pessoas dos mais diversos países trabalham na Arábia Saudita. Nacionalidades que minha geografia limitada não imaginava existir, não ousava conhecer. O mundo é infinito dentro do inimaginável. Verdadeiras realidades irreais!

domingo, 15 de novembro de 2009

Comer, Beber, Viver!

Aprendi rapidamente a amar Jeddah. Largas avenidas com casas majestosas. Comida deliciosa, sucos exóticos e coloridos. Uma cultura diferente que é interessante conhecer, um lugar onde é fácil viver. Sigo os dias comendo, bebendo e vivendo!

Acho uma gracinha os carrinhos que ficam nas ruas e calçadas para o lixo ser colocado. Na cor magenta, eles colorem a cidade e são da mesma cor do uniforme macacão dos garis que tentam manter a limpeza. Já os trabalhadores que cuidam dos canteiros e jardinagem das praças, usam o mesmo modelito profissional, porém são na cor verde.

Diversas cafeterias enfeitam as avenidas e os centros comerciais. O café, cujo nome científico é Coffea Arábica (mesmo tendo origem africana), se adaptou muito bem quando veio para a arábia no século XV. Neste passado meio distante, os frutos do cafeeiro eram assados na gordura e comidos com açucar. A infusão dos grãos teve início no século XVI em Meca e Medina, cidades sagradas e vizinhas da amada Jeddah. A partir daí, passou a ser difundida no ocidente. Sento confortavelmente na poltrona do Barnie’s, do Starbucks, do Costa Coffee, do Second Cup e do The Coffee Bean para assistir ao desfile de abayas negras e de thobes brancos enquanto provo cafés quentes e gelados. Como as mulheres de abaya e os homens de thobe (vestimenta tradicional dos homens sauditas) são tremendamente preguiçosos, as cafeterias mantém centenas de pequeninos pontos com sistema de drive thru. Tenho um amor especial por duas casas de café na Arábia Saudita. Cobertos de sabor bairrista, o Café Tche e o Café Larica são os mais sensacionais para mim.

Os dias passam rapidamente e os segundos parecem acompanhar a velocidade da luz. Criam-se novos laços de amizade e alguns se perdem. Ganho novos amigos, o círculo social floresce e muitos eventos aparecem. Certa noite, empolgada depois de beber algumas taças do vinho artesanal por mim produzido, saí com meu marido rumo à festa de aniversário de uma amiga brasileira em outro condomínio. No meio do caminho, me dei conta que havia saído sem a abaya (vestimenta obrigatória para as mulheres andarem na rua). Sob o olhar perplexo de alguns, chegamos ao nosso destino. Sem transtornos! Adentrei no local da festa com um bolo amarelo em mãos. Ele fora elaborado por mim, e estava enfeitado com graciosas margaridas e flores encarnadas feitas de açúcar. Eis que surge uma simpática portuguesa, chegada a um mês de Lisboa, perguntando-me se a tal Xoxa das Arábias era eu. Ela localizou o blog através do google, a alguns meses atrás, quando buscava informações sobre a vida na cidade de Jeddah. Fiquei toda boba, lisonjeada. Senti sabor semelhante quando recebi encomendas de docinhos e realizei minha primeira entrega de brigadeiros e beijinhos a uma moçambicana.

Os indianos acreditavam que o açucar teria sido criado por Vishwamitra, para alimentar os deuses. Alexandre, o Grande, definiu o açucar como “um mel sólido, obtido sem o auxílio das abelhas”. A beleza da vida é cheia de deuses açucarados. Feita de fatos rotineiros que nos fazem existir com maior plenitude, com doçura. Preciso desta felicidade transcendente para viver! Assim como motivos para continuar os dias comendo e bebendo; com os olhos, o nariz e a boca.

domingo, 1 de novembro de 2009

Pedras de Petra

Amman, capital da Jordânia, superou minhas expectativas. Ela é relativamente limpa e organizada e a vegetação repleta de belos pinheiros. As casas e os prédios apresentam um padrão em suas fachadas com revestimento de pedras esbranquiçadas, e lindamente contrastam com o verde intenso dos pinus. Andar de taxi por Amman sai muito barato, mas você deve pegar os automóveis de cor amarela, que são os que usam o taxímetro.

Pegamos um veículo amarelado e pedimos ao motorista que nos deixasse na rodoviária. Durante toda a manhã, ônibus saem da rodoviária em direção a Petra. A passagem custa cinco Jordanian Dinars (JD) mas com insistência e bom choro sai por três Dinars. Detalhe: o ônibus só parte depois que enche. Árabes com roupas típicas, mulheres cobertas, crianças aos prantos, e um cidadão que fumava sem parar, preencheram os assentos. O ônibus partiu depois de duas horas de espera. Aleluia! O percurso até a cidade de Petra foi feito em quatro horas. As plantações de oliveiras e os rebanhos de cabras coloriram o visual durante o trajeto.

Fizemos o check-in em um hotel de baixo custo escolhido pela internet. Nos aprumamos até a entrada do parque arqueológico, à trezentos metros do hotel. Você tem a opção de comprar o ticket para um, dois ou três dias. Vale a pena passar mais de um dia caminhando e escalando as pedras históricas do lugar. Existem carruagens, cavalos, camelos e jumentos (animais bonitos e bem tratatos) que podem ser contratados. Mas negocie o valor. Petra, que significa pedra em grego, é considereda uma das Sete Maravilhas do Mundo Novo e Patrimônio Mundial da Unesco. A cidade teve grande importância no comércio mundial e serviu de rota comercial bem antes do profeta Jesus nascer. Habitada pelo povo Nabateus, foi destruída por um terremoto em 551d.c., e redescoberta em 1812 por um europeu.

Ainda estávamos no interior do parque quando a noite caiu, foram seis horas explorando os cantos do desfiladeiro. Ficamos encantados com os monumentos escavados nas rochas. Foi o tempo de tomar uma ducha e partir novamente para ver o espetáculo de velas iluminando o lugar. O Candlelight Show acontece três vezes por semana. O público caminha uma hora e meia entre milhares de velas até o templo principal (Al-Khazneh). É importante realizar a empreitada de tênnis, pois na escuridão, as pedras e os buracos também são pardos. Ao chegarmos na Câmara do Tesouro, nos acomodamos em tapetes estilo “voador” e fomos agraciados com um delicioso chá de lemongrasss acompanhado pelas velas, as estrelas e um lindo luar.

Acordamos cedo no outro dia e continuamos a peregrinação para desvendarmos os fascínios das pedras de Petra. Em alguns pontos que se fez necessário repetir as passagens, vimos de outro prisma. A cidade rosa de Petra é encantadora em cada segundo, uma beleza ímpar em cada horário. O lugar agracia os nossos olhos e faz jus ao título de maravilha mundial.

Adoro fazer viagens; para qualquer destino, a qualquer momento e em qualquer situação. Não sou muito ligada a comodismos, mas confesso que também gosto das regalias dos hoteis estrelados. Partimos satisfeitos depois de realizarmos a última cruzada. Voltamos ao conforto do lar saudita, pois voltar para casa também é sempre muito bom.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Banho de Lama no Mar Morto

Planejar e esperar por uma viagem é tão empolgante quanto concretizá-la. Pesquiso algumas coisas do destino na internet e crio expectativas sobre o lugar montando imagens em minha mente. Quando eu era pequena, dias antes de viajar, minha mãe me dizia para deixar sobre a cama conjuntos de roupas para viagem, depois ela passava para fiscalizar o aproveitamento da escolha dos figurinos. Hoje em dia, deixo para preparar a mala poucas horas antes do voo decolar.

Planejamos a viagem à Jordânia três dias antes do nosso embarque. O objetivo em conhecer o país era irmos até a cidade de Petra, uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno. Mesmo sabendo que não teríamos tempo de banhar-nos nas águas salobras do Mar Morto, não consegui tirar esta idéia fixa da minha cabeça. O visto de entrada foi feito rapidamente quando chegamos em Amman, capital do país. Como as primeiras horas em lugares desconhecidos são sempre estranhas, solicitamos ao hotel um taxi particular para nos buscar. Com atraso, o Sr. Motorista apareceu e rumamos ao hotel de vinte dolares em seu carro escangalhado e sem ar condicionado. E, é claro, com uma diária deste valor, o conforto das estrelas oferecidas se encontravam no céu.

O hotel estava localizado na parte histórica da cidade, estrategicamente aos arredores dos pontos turísticos da capital. Fomos até a Citadel e conhecemos as ruínas do Templo de Hércules, o Palácio Ummayyad e a Igreja Bizantina. Como a Citadel fica no alto, o visual foi legal e tivemos uma visão bacana do centro da cidade com suas tradicionais construções. Descemos o monte e fomos visitar o Teatro Romano com seus seis mil lugares. Chegamos exaustos na última fileira; subir tantos degraus e descansar imaginando os acontecimentos que fizeram história, foi o ponto alto do passeio.

A idéia fixa de tomar banho com a milagrosa lama do Mar Morto acabou virando fato. Acertamos o valor do passeio e percorremos em torno de duas horas e meia pelas estradas jordanianas até avistarmos o lago de água salgada. Na margem de cá, a Jordânia; na de lá, a Palestina. Existem vários clubes e hotéis cinco estrelas na orla, você compra o ticket e passa o dia usufruindo o entretenimento oferecido por eles. Entramos em um destes clubes e fomos almoçar no restaurante para provar a comida local. Catastroficamente eu não havia levado roupa de banho, mas mesmo assim não me abalei. A textura da água é bem diferente, escura e parece ter óleo. Realizei um banho em estilo tcheco e lavei bem o rosto, achei que fosse ficar cega quando abri os meus olhos. Meu lábio também ficou extremamente salgado. Depois é que li as instruções em uma placa. Estas águas são consideradas as mais salgadas do mundo e as pessoas não tem como afundar. Um turista boiava tranquilamente na água enquanto lia o jornal. Depois de banhar-me na água que é composta por vários tipos de sais, algumas delas encontradas somente aqui, entrei na fila para o banho de lama. Paguei uma pequena taxa e pude encher as mãos com a lama de cheiro estranho para passar nas minhas pernas, braços e face. Depois do ritual de beleza asfáltico, assistimos ao sol se pondo em território palestino.

Comprei lama embalada para levar para casa, assim como outros produtos mágicos que eles vendem e que são fabricados aqui. Voltamos ao hotel para descanso. No outro dia, o destino foi a rodoviária. Fomos atrás de Petra. Lá, realizamos a última cruzada, sempre lembrando de viver a vida!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Eid Mubarak

Segundo o calendário lunar islâmico, estamos vivendo em pleno ano de 1430, e o Ramadan chegou ao seu final este ano. Resisti bravamente aos dias de jejum e estou liberta dos pecados que habitavam meu corpo e minha mente. Mas ainda tenho a vida terrena toda pela frente para exercitar e praticar os ensinamentos de Allah, que não são nada fáceis de seguir. De qualquer maneira, sabores e dissabores acabam sendo inevitáveis.

Depois de todos os rituais diários exercidos durante o Ramadan, foi a vez de conhecer um pouco sobre as festividades islâmicas do Eid. O festival religioso do Eid ocorreu do dia 20 ao dia 25 de setembro. A grande maioria dos lugares mantiveram-se sem expediente durante estes dias. É uma data em que os muçulmanos recebem visitas, reunem-se com parentes e amigos, trocam presentes e festejam. Inclusive as crianças devem fazer caridade prezando sempre pelo espírito amoroso. Laços de fraternidade são criados. Muitas rezas continuam a ser feitas.

Só que as mulheres menstruadas não podem participar das orações do Eid. Deve ter uma explicação para esta regra escrita no Alcorão, mas não tenho a mínima idéia de qual seja. Nessas horas é que penso que o fanatismo religioso peca nas mais diversas religiões. Sei da loucura do ser, e que muitas pessoas em determinados momentos de suas vidas encontram a salvação nas entrelinhas religiosas. Algumas vezes me pego pensando no porque das coisas. Não tem jeito! Acho que meu culto está mais para as forças satânicas! É impossível saber quando a verdade é verdadeiramente verdadeira. Pelo menos para mim. O ano em que estamos é diferente para cristãos e muçulmanos, a vida é subjetiva e a religião que devemos seguir deve ser a nossa. É sempre bom viver no presente, sem preocupações com o futuro, e sem deter-se demais no passado.

Meu marido tem um colega de trabalho (muçulmano) que tem quatro esposas e dezenove filhos. O islamismo passou a ser a maior religião do mundo. A porcentagem de muçulmanos vem crescendo rapidamente em consequência da altíssima taxa de natalidade entre eles. Deixaremos de herança para as próximas gerações uma cultura completamente diferente da existente nos dias de hoje.

Eid Mubarak para todos nós!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Jejuando no Ramadan

Estamos em pleno Ramadan! Na Arábia Saudita, ele iniciou, neste ano de 2009, no dia 22 de agosto e terminará no dia 19 de setembro. Vinte e nove dias, os mais sagrados do calendário lunar islâmico, onde a pessoa tem que jejuar do nascer ao pôr-do-sol. Como é minha primeira experiência com esta festividade religiosa, deixei para escrever nos últimos dias. Precisava vivenciar e tentar entender um pouco melhor estes fatos imersos em suas crendices e lendas. O país está lindamente decorado com luzinhas, estrelas, luas, lamparinas e tendas. O mundo muçulmano está em festa!

Segundo a tradição, foi nesta época do ano que o profeta Maomé (Mohammed) teria recebido a revelação do Alcorão. Aos pecadores, esta é a oportunidade de redimirem-se dos pecados. Eles ficam sem beber e sem comer para entender como os pobres se sentem. Precisam livrar-se de tudo que vai contra os ensinamentos de Allah. Mulheres grávidas, enfermos e crianças não precisam praticar o jejum.

Quando cheguei em Jeddah, há seis meses atrás, muitas pessoas se referiam ao Ramadan como uma coisa ruim. Muitos ocidentais migram para seus países de origem nesta época do ano. Os não-muçulmanos acham que é um período de abstenção em suas rotinas. Eu curti o Ramadan em cada um de seus detalhes. Curti ainda mais. Durante o Ramadan, os supermercados abrem à partir das 10hs e parte do comércio das 14hs às 17hs. As cinco pausas para as rezas diárias continuam. Nenhum restaurante, cafeteria ou afins funcionam pela manhã ou a tarde. Mesmo os estrangeiros estão proibidos de comer, beber e fumar em público durante a luz do dia. Por volta das 18h30min, dependendo do dia e da região, ocorre a quebra do jejum, chamado de Iftar (café da manhã). Minutos antes deste horário as pessoas lotam as ruas e restaurantes em busca de alimentos. Nas sinaleiras, são distribuídas tâmaras docinhas e macias com laban e água gelada. Depois do café da manhã noturno acompanhado de um farto desjejum, eles voltam a rezar e as ruas ficam desertas. Retomam as atividades à partir das 22hs, que perdurará por toda a madrugada, até o primeiro raio de sol. Não tem balada, mais tem Ramadan! Morcegos do deserto.

Em uma tarde dessas, estava no shopping e me bateu uma sede feroz e incontrolável. Comprei uma bebida no supermercado do Mall e fomos para o carro. Bebemos escondidos, certificando-se que ninguém se aproximava. Beber um líquido inocente e lícito pode resultar em “cana” durante o jejum. Fui a quatro Iftars (café da manhã) aqui em Jeddah. É uma comemoração cara, em torno de cinquenta dolares americanos por pessoa. Em um deles, ao nos servirem, começamos imediatamente a comer. Depois de alguns olhares, fomos advertidos de que tínhamos que parar e aguardar o horário certo para começarmos a comer, depois do horário da reza. Tá ficando difícil se livrar dos pecados. O tradicional Iftar saudita, entre muitas comidas e bebidas, é farto de tâmaras. A tâmara é reverenciada pelo povo árabe. Maomé recomenda ao seus fiéis que idolatrem o fruto como sendo um membro da família. Ele afirma que a tâmara foi criada com o resto de barro usado para criar Adão.

Acho que nunca tinha ouvido falar sobre o Ramadan em outra época da minha vida. Estou cumprindo sacramento mas não me considero uma pessoa das mais cristãs. Fiz primeira comunhão, fui batizada e crismada. Tenho admiração por particularidades de religiões distintas, mas muitas vezes me descobri ateia. Talvez a admiração que eu tenha por outras religiões seja de outras vidas. A vida e seus sabores estão cheios de pontos de interrogação, exclamação e vários três pontinhos. Mas não temos como prever quando será o ponto final, se é que ele existe...

Ramadan Kareem!!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Piquenique em Taif

Nunca imaginei que no Reino da Arábia Saudita, assim como em outros países árabes, eles fizessem tanto piquenique. Mas fazem. São ciganos do deserto! Eu que adoro um passeio e uma farofada, tratei de comprar um tapete com palácios e camelos do deserto estampados. Adquiri uma garrafa térmica em estilo árabe e fiquei esperando o dia que o tal convescote se concretizasse em um canto qualquer.

A oportunidade para o típico piquenique acabou aparecendo. Subimos a serra saudita em direção a cidade de Taif, lugar onde os árabes adoram passear em busca de um calor bruxuleante nas alturas. Pegamos o acesso para não-muçulmanos em direção a cidade e deixamos Meca (capital espiritual do islamismo) para trás. Avistamos as tendas dos beduínos nômades com seus rebanhos de camelídeos. Montanhas de pedras em um solo arenoso. O trajeto de aproximadamente 150km passou rapidamente e nem senti que estávamos a uma velocidade de 170km p/hora. Não entendi a pressa. Me dei conta que estávamos nos aproximando de Taif quando a altitude começou a aumentar drasticamente. Paramos para registrar o cenário através de fotos e percebi o frescor da temperatura em minha pele.

Chegando em Taif as coisas complicaram um pouco, as placas estavam escritas somente em árabe e não tínhamos noção para onde ir. Estávamos com mais brasileiros em outros dois carros, e o aparelho GPS de um deles não achou informações turísticas animadoras. Aliás, como a Arábia Saudita é um dos países mais fechados do mundo, eles não emitem visto de turismo, somente visto de turismo religioso, ou seja, para muçulmanos. Descolamos a visita ao zoológico da cidade e fomos até lá conferir. Não tínhamos muita escolha, o horário do meio dia se aproximava e junto a hora da reza e da sesta, onde tudo fecha por algumas horas. Acabamos entrando e alugamos um carrinho de golfe para nos protegermos do sol do meio dia. Os homens logo abandonaram a direção e o pequeno veículo. Eu assumi o controle da máquina e os olhos sauditas não aprovaram muito. Seguimos o passeio. Pobres animais! O elefante olhava tristonho e o jacaré estava ensopado na água quente e suja acompanhado por garrafas vazias que foram jogadas. Na gaiola do pássaro Quail, havia um gato que descansava tranquilamente na sombra do telhado, talvez fazendo a digestão. Os cães e os gatos ganham destaque, aqui eles são animais de zoológico. Já os camelos e os dromedários pareciam contentes no hábitat arábico.

Fomos até a entrada de outro parque e montamos o piquenique à sombra de algumas árvores. Comemos, bebemos e curtimos um chimarrão rodeados por árvores decoradas com centenas de sacos plásticos tremulando ao vento oriundos do lixo que o povo deixa por onde passa. Não localizamos as famosas plantações de rosas e não andamos no teleférico. Assim, teremos pretexto para voltar à serra saudita.

No retorno, encostamos o carro para ver um bando de macacos babuínos recebendo guloseimas e divertindo as pessoas com seus traseiros vermelhos. Nos despedimos dos babuínos e dos beduínos. Descemos a região montanhosa e voltamos pela estrada envoltos pela imensidão das areias do vasto deserto. Uma vegetação escassa, mas existente e de um verde intenso. Provando que a vida é possível em todos os lugares, em qualquer condição, em toda direção.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Comes, Bebes e Cia

Finalmente provei a carne de camelo árabe. Comi um pedaço da costela (meu corte predileto) deste alto e desengonçado bichão. Mesmo não encontrando a carne de um animal novo no supermercado perto de casa, me surpreendi. Macia e saborosa, semelhante à carne de gado em aparência e sabor. Foi feita à moda gaúcha, assada na brasa, mas com sal fino, já que aqui em Jeddah ainda não encontramos sal grosso para vender. O leite da camela árabe também é bom. É mais saudável e incorpado que o leite de vaca, mas é três vezes mais caro. E, assim como a carne, não se encontra em qualquer supermercado.

Como o consumo e a venda das bebidas alcoólicas são proibidos em toda a Arábia Saudita, as casas de suco de frutas são predominantes na maioria dos locais. Eles também vendem caldo de cana e aparentemente as máquinas são mais evoluídas do que as encontradas no Brasil. Logo que cheguei, comprávamos garrafa de dois litros para beber em casa, mas logo eliminamos este hábito açucarado e calórico. Gosto muito do suco de manga com abacate e mel, tem um gostinho todo especial. Bebo bastante o de limão com hortelã e algumas vezes o suco de romã, super na moda em virtude de seus benefícios.

O manjericão, erva aromática que aprecio pela beleza das folhas e seu atraente perfume, é planta ornamental comum nas arábias. Seu verde vívido enfeita os canteiros e praças da cidade, a área dos condomínios e os vasos das residências. É usado também como uma forma de repelente, pois há épocas em que muitos mosquitos e moscas ficam zumbindo pelo ar. Os pés de manjericão resistem bravamente ao estufante calor e às regas escassas.

Os pães, ah os pães! São delícias das Arábias. Perdição que vem desde os tempos da pré-história. Os pães árabes sempre acompanham as refeições, eles chegam macios e quentinhos na mesa dos restaurantes sob diversas formas. Delicio-me com muitos deles antes da refeição, principalmente no restaurante Al Fairuz, e quando a comida chega, já estou satisfeitíssima. Adoro comprar o pão sírio, aquele chato, preparo torrada com eles. Tem também o markuk, que é tipo uma folha, preparo-os em forma de crepe com diferentes recheios. A durabilidade deles é curta, rapidamente mofam e perdem o encanto. O povo árabe, ainda mais os beduínos, alimentam-se com as mãos, e os pães neste formato servem para pegar os alimentos.

Antes mesmo de definirmos a nossa mudança para Jeddah, já pensava nos cursos de culinária que talvez encontrasse no Oriente Médio. A culinária árabe é uma das mais ricas do mundo, e tinha certeza que encontraria algo. As confeitarias são verdadeiras joalherias; grandes, espelhadas e de encher os olhos. Mesmo com opções limitadas para o público feminino, descolei um curso de decoração de bolos da Wilton, da mesma escola do Canadá e dos Estados Unidos. Uma turma de oito mulheres e eu, a única não muçulmana. Acabei de concluir o primeiro nível, onde duas colegas negavam-se em remover a abaya durante as aulas, e com relutância descobriam o rosto e os cabelos. Fotos dentro da sala de aula, nem pensar! As aulas recomeçam no dia 04 de outubro, e estou com muita curiosidade para conhecer minhas colegas e aprender novas técnicas.

Allah revelou ao profeta Maomé, que uma moça para casar-se, precisa “fisgar” o homem pelo estômago. Este antigo e certeiro ditado que talvez venha do Alcorão (livro sagrado do Islamismo) eu pratico e recito todos os dias. Mas nem só de pão viverá o homem. Ele precisa alimentar-se com todos os sentidos!

domingo, 16 de agosto de 2009

La Gruyère

A viagem gastronômica das férias encantadas está terminando. Elas fazem parte do pretérito suiço perfeito. A vida nada mais é que uma sequência de contos Era Uma Vez, que são escritos por nós diariamente e inclui tudo e todos que dão-lhe sabor.

Fomos passar o dia na cidade de Bex, subimos um bom trecho da rota das montanhas cruzando por rios e cachoeiras abençoados pela natureza do lugar. Almoçamos em um restaurante Bio, o La Soldanelle, e pedi um prato dos deuses. Rösti, também conhecida como Batata Suiça, que é uma deliciosa batata ralada, dourada e crocante. Meu pedido foi caprichado, com reforço de queijo e toucinho. DELÍCIA! Após a refeição, onde a sobremesa e o vinho facilitaram a digestão, continuamos subindo pela rota das montanhas nos Alpes Suiços. Alcançamos o Parque Grand Muveran com suas esplêndidas paisagens e um jardim botânico alpino, com espécies de plantas e flores das montanhas do mundo todo.

O passeio até Luzern (parte alemã da Suiça) também foi valioso. No caminho passamos por um belíssimo e grandioso estábulo todo envidraçado (até mesmo o telhado era de vidro) para que os animais possam admirar a vista ao redor. A cidade de Luzern é tão perfeita que mais parece uma maquete. Tudo muito limpo e lindo!

Tem um programa de culinária muito legal que fez parte do meu dia-a-dia suiço. Un Dîner Presque Parfait, um reality show, onde cinco participantes precisam preparar, em suas residências, um jantar completo aos demais concorrentes. Os próprios participantes é que desfrutam da noite e que dão as notas ao anfitrião no final do jantar. Notas de zero à dez, nos quesitos cardápio, ambiente e apresentação dos pratos. No final de cada semana são abertos os envelopes das notas para saber o vencedor. Fiquei viciada neste programinha de TV. Outro programa bacana de culinária é o Pique Assiette, onde a apresentadora, de uma forma bem humorada, prepara pratos coloridos, práticos e rápidos, inspirados fortemente na culinária mediterrânea.

Depois de comer muito blue berry, morangos e framboesas silvestres que eu mesma colhia na floresta (as mais saborosas e mais doces que já comi), chegou a hora de partir. Guardarei belas recordações das vaquinhas alimentando-se das flores coloridas da mística montanha e da música que seus sinos soavam aos meus ouvidos. Inesquecíveis fadas e borboletas que me fizeram boa companhia, esguios pinheiros guardiões da região encantada de Gruyères. Obrigada à vida por me dar a oportunidade de viver todos estes momentos maravilhosos e encantadores, que nos preenchem com abundância de alegria e amor.

Desejo voltar na primavera, no outono e no inverno!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Petit Sabores

Sempre que viajo a um determinado lugar, gosto de aproveitar ao máximo as delícias gastronômicas do local. Cada região tem suas especialidades, e é assim em qualquer canto do mundo. Sou uma glutona assumida, apaixonada pela culinária, principalmente pelos doces. Adoro um invento culinário, tornando-me algumas vezes uma ameaça ao paladar do meu marido.

Na suiça, hospedada na região de Gruyères, meus sentidos fizeram várias descobertas. Hóspede de uma cozinheira de mão cheia, que morou em vários países, aprendi novas receitas e grandes segredos. Nossas idas ao supermercado e lojas do ramo renderam muito. Com uma paciência de Jó, ela me explicava cada ingrediente e utensílio novo aos meus olhos. Fiquei tremendamente surpresa ao ver uma quantidade imensa de damascos frescos, que coisa mais linda. Delicados! Passava o dia saboreando-os. Sempre tive muita vontade de provar carne de cavalo, mas nunca pensei que fosse finalmente prová-la na Suiça, gostei bastante. Também experimentei interessantes saladas de raiz de salsão e raiz de funcho, bem comuns por lá.

Era uma vez uma cidade onde eram feitas nobres guloseimas e gulodices. Broc fica na Suiça e é uma cidade muito florida e graciosa com seus trens e trilhos enfeitando a cidade. La Maison Cailler é uma chocolaterie. Nesta fábrica de delícias o chocolate ainda é preparado com o leite fresco das vacas. A Cailler tem 190 anos de história e é uma linha requintada da Nestlé. Apenas pela degustação destes chocolates já vale a visita. Precisaria de mais algumas horas para realmente sentir e saborear todos os aromas. Um mais sensacional que o outro, ficou impossível provar todos. Estavam servindo na temperatura ambiente, perfeito para distinguir e apreciar os detalhes. Deleitei-me com os brancos, os amargos e os recheados, até derreterem completamente em minha boca. Adorei o pequeno museu, com as embalagens antigas que envolveram estas preciosidades ao longo de décadas. E, é claro, fiz comprinhas na loja da fábrica, mas somente artigos de primeira necessidade, pois não sou de ferro.

A visita interativa à fábrica do queijo Gruyère foi interessante, fiquei sabendo um pouco da história desta maravilha inventada há alguns séculos atrás. La Maison du Gruyère também possui um restaurante e uma loja com as delícias da região. Nos abastecemos e subimos em direção ao chalé nas montanhas.

O primeiro registro da Fondue na Suiça é do século XVII, quando as sobras de queijos eram armazenadas embebidas com Kirsch (aguardente de cereja), garantindo a durabilidade do alimento durante todo inverno. Hoje em dia ele é misturado ao vinho branco, mas se usa embeber um torrão de açucar cristal ou açucar mascavo na Kirsch e degustá-la entre uma garfada e outra. Ou ainda, para quem perder o pão dentro da panela, ter que tomar um “martelinho” da aguardente de cereja como “prenda”. Eu não perdi nenhum pão, mas adorei sentir o gosto da bebida contrastando com o queijo. Fiz ainda outra grande descoberta, descobri que sou apaixonada pela Raclette (batata com queijo derretido), e comprei os acessórios que faltavam para juntar-se ao aparelho que temos no Brasil e que até hoje não foi usado. Prepararei excelentes Raclettes aos nossos convidados, com direito a todas as pompas suiças.

PETIT SUISSE, PETIT GATEAU, PETIT SABORES, PETIT AMORES!

sábado, 8 de agosto de 2009

Verão Suiço

Acordar ao som dos sinos que envolvem o pescoço das vaquinhas suiças é coisa muito boa. Elas pastam tranquilamente e ruminam sem pressa as plantas e flores das montanhas. Na mesa do café da manhã admiro este cenário que me transmite grande paz interior. As montanhas suiças reservam agradáveis surpresas, principalmente tendo a oportunidade de passar vários dias caminhando por elas.

Com saudades do friozinho gostoso do Rio Grande do Sul, pegamos o funicular na base do Molèson até alcançar o Plan Francey a uma altura de 1.056 metros. Observando a fantástica vista e a luxuriante vegetação, embarcamos no cable car até alcançar o cume da montanha. No topo, a uma altura de 2.002 metros, avistei ao longe os Alpes Berneses e o Mont Blanc com suas neves eternas. Para uma típica refeição suiça, almoçamos no restaurante panorâmico: queijos, vinho rouge e meringues et crème de la Gruyère. Com a vista alucinante dos Alpes ao fundo, recebia de minha anfitriã aula sobre os encantos da culinária suiça.

O distrito de Gruyères (que leva “s”na escrita), região famosa por seu castelo e pelo queijo Gruyère (que não leva “s”na escrita), esconde muitos contos e lendas. Um lugar onde tudo é lindo, gostoso e charmoso. O nome Gruyères vem da ave grua, estampada graciosamente na bandeira local e enfeitando grande parte do lugar e dos objetos. O lugarejo medieval de Gruyères, fechado com muros, é um lugar perfeito para voltar no tempo. Caminhei pela única rua do lugar apreciando a beleza das casas antigas com suas janelas floridas. Restaurantes, hoteis e lojinhas ocupam o interior das casas. Lá no final da rua, onde termina a pequenina cidade, um castelo do século XIII, é o Château de Gruyères. Na volta, descendo rua abaixo pelo romântico e pequeno lugar, fui abduzida até as janelas de um bar. Fiquei hipnotizada e entrei para beber algo. Quando dei-me por conta, estava na garganta de um monstro gigante, sentada na espinha de um bixo estranho. O bar do Alien, ou melhor, o HR GIGER Museum Bar, é de propriedade do suiço HR Giger, criador do alienígina do filme ALIEN, entre outras obras surrealistas.

Montreux, cidade internacional da música, patrimônio da humanidade pela unesco, com plantações de videiras de um verde intenso, é uma cidade fascinante. Fazer um passeio no fim de tarde às margens do Lac Léman (lago de Genebra) e sentar em um dos bancos para tomar sorvete vendo o povo passar e banhar-se em suas águas é bacana. Os patos do lago fazem a festa junto das mulheres que tomam sol e fazem topless. Não é a toa que o lugar leva o título de Riviera Suiça. Ao longe, alheio a tudo, o imponente castelo de Chillon compõe a vista, enquanto a estátua de Freddy Mercury canta empolgada na beira do lago.

As estradas na Suiça são excelentes e fica fácil circular de carro. Nesta época de férias de verão, os trailers e motor homes invadem as estradas e parques em todo país. Tudo é ecologicamente correto e impecável. A natureza na Suiça é formidável!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Suiça Encantada

Sabe aquelas pessoas que transmitem uma afinidade infinita em nossas vidas? Pois é, Allah enviou-me uma destas jóias para iluminar minha trajetória pelo deserto. Esta amiga iluminada foi passar as férias de verão em seu chalé suiço, e deixou Nougat, sete anos de idade, gata de estimação de sua família, sob nossos cuidados, na nossa residência em Jeddah. Acontece que Kimbah, nosso gato de estimação de 10 anos de idade, foi rejeitado pela gatinha Nougat, tornando a convivência entre ambos bastante tensa em nosso lar.

Certa noite, saímos para jantar na casa de uns amigos na área do condomínio e, ao voltar, vendo as cortinas esvoaçantes pela porta da varanda, dei-me conta que havia esquecido a porta aberta. O que que aconteceu?! Gata Nougat havia desaparecido!! Meu marido e eu passamos parte da noite procurando-a com lanterna pelos intermináveis canteiros, piscinas e ruas do compound. Usamos várias táticas, todas em vão. As buscas iniciaram novamente ao raiar do dia. Cansada de tanto procurar Gata Nougat e já com a esperança esvaindo-se pelas minhas mãos, retornei para casa. Foi quando entre uma peça e outra, em um piscar de olhos, deparei-me com Gata Nougat, deitada em sua caminha, ofegante, após passar a noite na farra.

Só sei que escapei de relance. Por pouco não perdi minhas férias nos Alpes Suiços, programada para os dias que estavam por vir. Mas não! MERCI ALLAH! E como acontece em todo conto de fadas, desembarquei no aeroporto de Genebra, na Suiça, sendo o vigésimo-quinto país que a varinha mágica me permitiu conquistar entre tantas idas e vindas. Cheguei com um lindo dia de sol, cruzei pelas estradas em meio às alegres plantações de girassóis, de suculentas maçãs, de belas videiras,... Rumei ao interior da parte francesa da suiça, no cantão (estado) de Fribourg, até encontrar o chalé situado nas montanhas de Moléson na região encantada de Gruyères, dando origem a uma sequência de contos da série Era Uma Vez...

sábado, 1 de agosto de 2009

QUÉOPS, QUÉFREN E A ESFINGE GUARDIÃ

Em um dia ensolarado e quente, chegamos pela manhã ao planalto de Gizé para apreciar de perto a geometria das pirâmides enigmáticas de Quéops, Quéfren e Miquerinos. Que coisa boa poder recuperar as aulas de história que foram gazeadas durante o colégio. É um privilégio desbravar esta cultura interminável com meus próprios olhos e através de meus passos. A Esfinge e as pirâmides, que sempre sonhei em visitar, estavam agora aos meus pés. Os faraós alcançaram seu objetivo, ficaram para eternidade. Já na entrada fizemos a compra dos tickets para visitar o interior das pirâmides. Afinal, já que viemos até aqui, necessitava sentir o peso e a vibração delas sob meus ombros. O acesso à câmara mortuária do antigo faraó é feito através de um corredor claustrofóbico, extremamente quente, com oxigênio reduzido e tem-se que andar agachado por mais de 50 metros até à câmara. Mesmo deparando-me, no final, com uma tumba vazia e sem múmias, valeu muito a pena. Para deixar o passeio completo, montamos em um camelo adornado e andamos na região do Planalto de Gizé. Esqueci completamente que estava no meio da cidade, mesmo avistando os prédios da cidade do Cairo à minha volta.

Conhecemos as cidades milenares de Mênfis e Saqqara, e percorremos as matas repletas de tamareiras carregadas de frutos que aguardavam a época da colheita. Depois de passar o dia nestas incansáveis andanças, curtimos o pôr do sol em um agradável restaurante flutuante sobre as águas do Rio Nilo. PERFEITO!

A visita ao Egyptian Museum foi frustante em vários sentidos, a parte interna do prédio está em péssimo estado de conservação e o ar condicinado é péssimo. Terrível! Acabamos fazendo várias brincadeiras e palhaçadas com as peças do museu, deixando a visita um pouco mais agradável. Para completar, a loja de souvenirs do museu estava fechada. Após o museu mudar-se para o novo e moderno prédio (já em construção), tudo ficará melhor.

O turismo no Cairo não é feito só da Esfinge e das pirâmides de Gizé, embora sejam estas a principal atração. Sensacional admirá-las à noite, durante o show de som e luz, narrado pelo ícone do cinema Omar Shariff. Demos sorte ao escolher o primeiro horário das apresentações. Além das fotos, curtimos o cair da noite tendo como cenário as pirâmides faraônicas ao fundo.

Vasculhamos desde cedo as ruas e labirintos do Bazar Khan al-Khalili (1.382 d.C.). Somente após cansativas e cômicas negociações conseguimos realizar boas compras. Muito desagradável são os olhares dos homens em todo o Egito, maior ainda nas ruas do mercado. Várias vezes meu marido teve vontade de cobrir-me com a abaya, evitando assim os ollhares e comentários. Entramos para conhecer a madrassa de Al-Ghouri, mesquita e antigo colégio muçulmano. Tivemos sorte de ser recepcionados por um funcionário que gentilmente nos perguntou se gostaríamos de subrir até o topo da mesquita. CLARO QUE SIM! Temi cruzar com morcegos pelo trajeto. Atravessamos o breu total até alcançarmos o famoso topo do minarete axadrezado de vermelho. BACANÉRRIMO!

Depois de um dia de andanças aos arredores do Bazar Medieval, fizemos um passeio à bordo de uma felucca pelas águas do Rio Nilo. Alugamos o barco à vela por duas horas, exclusivamente para nós, e pagamos barato por isso. Pedi ao capitão música durante o lento passeio, e ele colocou som árabe, me dando vontade de sair dançando. Despreocupadamente, sentei-me na proa da felucca e curti a vista, a brisa e o sol. Acumulei energia durante toda a estada no lendário país dos faraós e parti revigorada. Anseio voltar para mais algumas peregrinações.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ALEXANDRIA, ALEXANDRE E ALESSANDRA

O Egito sempre me fascinou, vislumbrava como sendo um destino que um dia visitaria. E como em um sonho, desembarquei no pitoresco aeroporto da cidade de Alexandria, suprindo o desejo excêntrico de conhecer e desmitificar este lugar histórico. Já no desembarque, senti o tempo retroceder. Pouca informação, nenhuma infraestrutura e um aglomerado desordenado de pessoas. O visto foi feito no desembarque, e com perspicácia conseguimos alcançar a revista das malas e encontrar a saída.

Para ganhar tempo e não gastar muito contratamos um carro com motorista para fazer um city tour pelos principais pontos turísticos da cidade. Me deslumbrei com o padrão dos taxis Lada Laika de cor preta e amarela. As fachadas dos prédios não recebem nenhum tipo de manutenção, e acabam seguindo a cor e o aspecto das areias do deserto.
Adorei conhecer o Forte Qaitbey, localizado às margens do Mar Mediterrâneo, que oferece uma vista esplêndida da cidade, do porto e da Bibliotheca Alexandrina. Passeamos pelas pedras da fortaleza; subi, desci e tirei muitas fotos. Surpreendemos casais de namorados muçulmanos que ocultamente namoravam entre as pedras. O Forte Qaitbey é datado de 1480 d.C. e foi feito com pedras reaproveitadas do Farol de Alexandria, uma das Sete Maravilhas da Antiguidade. Cativante!

Rodando pela Corniche, apreciamos as águas do Mediterrâneo com seus banhistas chegando para curtir um sábado de sol (o final de semana no Egito ocorre às sextas e sábados). No Egito, mesmo sendo um país muçulmano mais liberal, as mulheres andam cobertas e com lenços coloridos nos cabelos. Os cafés e restaurantes da beira mar ficam repletos de poltronas com clientes que fumam shishas de diferentes aromas e sabores. Quando avistei a ponte em estilo medieval da Stanley Beach tive vontade de parar o carro e ficar ali por alguns dias.

Cruzamos pelos portões do Montazah Palace e circulamos pelo bosque repleto de árvores flamboyant cobertas com flores de um laranja intenso. Um agradável local para se fazer um convescote nas belíssimas tendas distribuídas pelo jardim. Apenas circundamos o prédio do palácio, pois é fechado para visitações. Fomos caminhando até a praia de Mamoura e aproveitamos para tomar sorvete em uma vendinha local.

Meu grande objetivo em Alexandria era a visita à Bibliotheca Alexandrina. A Antiga Biblioteca, onde grandes personalidades históricas estiveram reunidas à partir do século 3 a.C., foi destruída pelas chamas e já não existe mais. Em uma construção escultural, o novo e moderno prédio abriga uma biblioteca e um centro cultural. Nas pedras que revestem a fachada da gigantesca biblioteca, estão esculpidos hieroglifos que foram criados pela humanidade ao longo de sua existência. Como era final de semana e o local estava lotado de crianças, adolescentes e turistas, ficou impossível curtir uma visita interna adequada. Mas Alexandre, o Grande, não tardou em mostrar seu poder novamente. Localizamos uma cafeteria do Hilton Hotel junto ao complexo cultural. Degustamos um saboroso shawarma (sanduíche árabe) na varanda do café e relaxamos apreciando a vista do mar. Curtimos o visual, saciamos a fome e a sede e pegamos a estrada. Rumamos em nosso tapete voador em direção à capital, Cairo, atrás das tumbas do faraós, das pirâmides enigmáticas e do gênio da lâmpada mágica.

domingo, 28 de junho de 2009

Curiosidades Ato I

Estou morando há três meses na Arábia Saudita e sinto-me feliz vivendo em Jeddah. Observo as pessoas com as vestimentas locais, e tenho a impressão de estar em uma festa à fantasia em pleno carnaval. Aliás, os costumes sauditas renderiam um belo samba enredo para um desfile na esplendorosa Sapucaí. Coisas diferentes e surreais acontecem habitualmente no mundo árabe. Mulheres alimentando-se por baixo da shayla e dos negros véus que cobrem o rosto e os cabelos durante as refeições em público, homens ciosos que deixam restaurantes onde não há divisórias entre as mesas na seção de família, e homens beijando várias vezes o rosto e andando de mãos dadas com outros homens; são cenas que fazem parte do meu cotidiano por aqui.

Quem não lembra das fitas K7? Aqui elas continuam vivas! Abastecem as prateleiras das lojas e disputam lugar com os CDs e DVDs. Nas modernas seções de eletrônicos, gôndolas exibem diferentes modelos de aparelhos “toca-fitas”que continuam a vender e tocar fita cassete. Estes dias achei uma fita K7 da dupla Sandy e Junior para vender.

A quantidade de lixo despejados pelo povo nas ruas, nas águas e na areia do Mar Vermelho são de ajoelhar e chorar. Existe uma quantidade muito grande de garrafas, cacos de vidros, sacolas plásticas e latas pelo chão. Perpetuar-se-ão fazendo companhia aos corais e conchas do Red Sea. Só é possível caminhar descalso às margens do Mar Vermelho nas áreas privativas dos clubes e condomínios. Suplicamos que a conciência ecológica chegue logo doutrinando os fiéis antes que o petróleo ouse acabar.

No Mc Donald’s, no Chili’s, no KFC, na Pizza Hut, no Applebee’s, no Friday’s, no Burger King,... Em todos estes e em muitos outros locais, até mesmo na praça de alimentação dos shoppings, mulheres possuem locais separados para atendimento e permanência. Nos locais que não existem as “FAMILY SECTION” (local somente para famílias e mulheres) as mulheres não são bem-vindas. Existem salas de espera nos consultórios médicos, e até mesmo alguns elevadores, que são separados para uso de homens e mulheres. Existem homens sauditas que são adeptos ao PURDAH, que é a prática de confinar mulheres em casa. Todas as lojas mistas e mesmo a maioria das lojas femininas, não possuem provadores de roupas. A presença masculina é maioria absoluta em todos os locais, no comércio você será sempre atendida por homens, até mesmo nas lojas de maquiagem, cosméticos e roupas íntimas (e tem muitas por aqui, uma mais linda que a outra, muitas vendem inclusive fantasias).

Em meio a pensamentos surrealistas, imagino o grand finale no dia do juízo final: mulheres sauditas tomadas de uma adrenalina voraz, queimando seus negros véus em fogueiras feitas em frente as mesquitas dos ditos fiéis. O mulherio dirigindo descontroladamente pelas ruas do deserto, com uma energia que fora acumulada ao longo de décadas. Subindo na mesa dos cafés, arrancando as abayas, vestindo charmosas lingeries por baixo, cantando e dançando “I Will Survive”. Encarnando verdadeiras rainhas do deserto!

Mumtaaz! Inchaallah!!!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Old Jeddah

The Old Airport Souk é um mercado muito interessante e fica junto ao antigo aeroporto. Como sou apaixonada por quinquilharias antigas, adorei circular neste lugar com peças cheias de energia e história das arábias de antigamente. Vaguei pelos antiquários observando belíssimas relíquias e interessantes réplicas misturadas à peças novas. O comerciante de uma das lojas fez uma performance hilariante de uma odalisca cantando e dançando, e ficou impossível sairmos de mãos vazias. Me interessei por algumas peças que foram de dançarinas beduínas. Como não tínhamos um tostão na carteira, prometemos voltar no dia seguinte. Ele insistiu para levarmos as peças e voltarmos depois para pagá-las. Não aceitamos de jeito algum, e gentilmente, presenteou-me com um anel de prata. Cumprindo a promessa, voltamos no dia seguinte para concretizarmos a compra e ainda ganhei mais um colar e uma pulseira de presente. É uma lástima muitas das lojas estarem com as portas fechadas, perdendo lugar para os grandes e modernos shoppings que infestam as avenidas e transformam a cidade em um grande canteiro de obras.

Um dos meus lugares preferidos em qualquer lugar do mundo é, definitivamente, o centro das cidades. É no centro que as coisas continuam a acontecer, mesmo pertencendo ao passado os tempos áureos do glamour. Aqui, em Jeddah, não seria diferente. Ainda bem! O centro de Jeddah é recheado de história, cheiros, cores e muita barganha. Duas vezes por semana, nas terças e nas quintas-feiras, pela manhã, o ônibus do compound vai até o main souk (mercado central), onde os moradores efetuam desde as compras básicas até as mais excêntricas. Quanta bugiganga, devaneios acontecem!

A primeira vez que fui ao centro de Jeddah, comecei com passos tímidos percorrendo as ruas e mapeando o local. Passada a primeira hora, já havia descoberto algumas das vielas mais sinistras do bairro. Prédios antigos, tortos e com janelas encantadouramente talhadas em madeira surgiam em meio aos escombros de tantos outros. Me senti fazendo parte da história relatada nas folhas do livro “A Cidade do Sol” durante a guerra do Afeganistão, após os bombardeios atingirem a cidade de Cabul. Não cansei de olhar para todos os lados e admirar a bela arquitetura que homem e tempo ajudaram a maltratar. Mais alguns passos e um clarão reluzente me chamou a atenção e me ofuscou a visão. Era a travessa das jóias, repleta de muito ouro e pedras preciosas. Já um tanto perdida, próximo da hora programada para o retorno, apressei o passo até encontrar o ônibus que já estava de partida.

Com meu marido também fiz novas descobertas e, nos labirintos do centro, fomos mais além... Percorremos as ruazinhas cheias de lojas de lenços, tecidos brocados, abayas (vestimenta preta obrigatória para mulheres), thobes (vestimenta masculina local), e muitas lojinhas de especiarias multicoloridas que são vendidas à granel. Na andança, nos deparamos com um par de canhões que os árabes usaram para se defender dos portugueses em alguma batalha a uns quinhentos anos atrás, nem eles sabem precisar a data. Estes canhões ficam em frente a Nassif House, que hoje abriga um museu e centro cultural. A casa foi construída entre 1872 e 1881, possui cento e seis aposentos, e era propriedade de um sheik. Neste dia ela estava fechada para visitações. Como vou ao centro semanalmente, uma das vezes consegui adentrar em um dos salões da residência. A visitação interna da casa só é permitida acompanhada de agência de turismo local; voltarei em um destes passeios com guia. Ouvi dizer que a casa reserva surpresas aos visitantes; a mais incrédula de todas, sem sombra dúvida, é que teriam roupas da Eva bíblica (isso mesmo, a EVA de Adão) em seu interior. Como?! Folhas de figueira, farrapos de pelego, trapos?!! A cultura islâmica reserva surpresas e curiosidades que até a nossa vã filosofia não ousaria explicar. Tão de sacanagem... Tô muito curiosa para desvendar!

terça-feira, 19 de maio de 2009

A Casa das Quatro Mulheres

Todo homem sonha em ser muçulmano e morar no oriente médio para poder se casar com quatro mulheres. Sim, aqui, a poligamia é legalizada e possível. Todos os homens muçulmanos são coniventes com a realização e tradição deste desejo carnal da raça masculina. Estes dias presenciei em um restaurante um árabe jantando acompanhado de suas duas supostas esposas. Fez da mesa de jantar o seu HARÉM!!! Ganhava, de cada esposa, uma garfada de comidinha na boca. O grande fetiche masculino sendo realizado em público em pleno século XXI. Não consegui parar de espiar e narrar a patética cena ao meu marido.

No voo Dammam-Jeddah, o comissário de voo não deixou que eu sentasse entre o meu marido e um homem árabe, “sugeriu” que meu marido sentasse na poltrona do meio. Já no voo Riaydh-Jeddah, o avião estava lotado, e sentei na primeira poltrona, ao lado de um jovem saudita, bem longe do meu marido. Super curiosa, comecei a conversar com o rapaz. Ele contou que estava no primeiro casamento e ainda não tinha filhos. Perguntei se ele exigia que sua esposa cobrisse o rosto. Ele disse que sim, mas que uma vez por ano, nas férias, eles viajavam para fora do país, quando ela usufruia em andar com o rosto, as mãos, os pés e os cabelos descobertos. O comissário do voo ficou tão indignado por eu estar conversando com um homem estranho, que colocou as mãos na cintura e perguntou furioso o que estava acontecendo. Depois disto, ainda relatou o fato ao meu marido. Me senti a Geni, da música composta por Chico Buarque. Na Arábia Saudita, isto é considerado um HARAM (pecado). Aqui, quem dita as regras é a sharia (Lei Sagrada do Islamismo), sendo o Alcorão a fonte mais importante da jurisprudência. As pecadoras só precisam ser acusadas por três homens, e então são levadas a julgamento. A condenação pode ser com pedradas, chibatadas ou até mesmo a morte...

Mas a vingança feminina está vindo à camelo. No país chamado UZBEQUISTÃO, a poliandria já é permitida. As mulheres muçulmanas podem firmar casamento com dois homens, isto mesmo, DOIS HOMENS! Pensando bem, este fanatismo islâmico não é de todo mal. Passarei a levar mais a sério as brincadeiras do meu marido em nos convertermos ao islamismo, para ele poder ter mais três esposas.

O que mais os homens sauditas querem... Trabalham pouco, dormem muito, a maioria tem muita grana, e possuem até quatro mulheres escravas e submissas para lhe servir na cama, na mesa e no banho. Mesmo assim, não satisfeitos, viajam a outros países atrás de mulheres pecadoras, em busca de mais perversão (e ainda cobiçam a mulher do próximo dentro do próprio país). Quanta hipocrisia!!! Joana d´Arc e Anita Garibaldi não aprovariam.

Está tudo explicado, precisam ajoelhar-se e pedir perdão à Allah cinco vezes ao dia, precisam fazer pelo menos uma vez na vida a perigrinação a Meca (Makkah - cidade sagrada), precisam jejuar durante todo o ramadã, tentando livrar-se dos pecados da carne, da mente e da alma. Está tudo errado. Nem as forças de Budha, Allah e Oxalá resolveriam esta bagunça!

PELOS PODERES DE GRAYSKULL!!! Salvem-se quem puder...

sábado, 9 de maio de 2009

GP do Bahrain

O desejo de assistir o Grande Prêmio de F1 no golfo estava perto de ser realizado. Chegamos ao aeroporto próximo da meia noite e o voo para cidade de Dammam estava atrasado, sem previsão, talvez até fosse cancelado. No estacionamento, reclinamos os bancos do carro e dormimos com a ajuda do ar condicionado. Ainda bem que o combustível na Arábia Saudita sai menos que a água. Aqui, o litro da gasolina custa - em reais - trinta e seis centavos (R$ 0,36). Bravamente, às 6hs da manhã, estávamos com o cartão de embarque nas mãos. Na Arábia Saudita, ao passar no raio X, as mulheres não utilizam a mesma fila dos homens. Passei por um caminho cortinado, sendo revistada por duas mulheres mal-humoradas, e vigiada por outra com uma metralhadora nas mãos. Foram desarmadas por minha tranquilidade e cordialidade. Sem traumas.

Desembarcamos em Dammam e pegamos uma carona com um colega de trabalho do meu marido. Foram uns cem kilômetros rumo ao pequenino país chamado Bahrain (692km2). No caminho não contive a euforia ao avistar ao longe, pela primeira vez, a moradia dos beduínos e uma fila de camelinhos. É incrível! Os beduínos vivem em tendas, isolados, no meio do deserto. Avançamos pela burocracia da imigração e encantei-me com o verde esmeralda das águas do Golfo Pérsico. Rodamos pelos vinte e seis kilômetros da ponte King Fahd atrás de diversão. No Bahrain, ao contrário da Arábia Saudita, há cinema, teatro, shows, consumo de bebidas alcólicas, carne de porco e derivados, as mulheres podem andar sem a abaya, sem o véu... E o melhor de tudo, podem dirigir livremente!

O país estava preparado e decorado para sediar o Grande Prêmio de F1. Até mesmo alguns táxis tinham a pintura do teto com o xadrez preto e branco da bandeirada final. Uma gracinha! A beleza da cor do mar, contornando o arquipélago, completaram o cenário. Nas ruas, o paisagismo é repleto de tamareiras terrosas e verdejantes, de todos os tamanhos, por todos os lados.

Despertamos e saboreamos um gostoso brunch na casa dos super anfitriões gaúchos. Depois de forrarmos o estômago, partimos para o local do evento. Uau! Avistamos as instalações do circuito internacional do Bahrain no escaldante deserto de SAKHIR. Chegamos fardados, com esperanças, de um possível pódio brasileiro. Para enfrentar o forte calor de 40 graus, muita água e Red Bull para amenizar. Tudo muito civilizado e organizado. Perto da hora do início da largada, deixamos a agradável área de lazer atrás de nossas cadeiras na turn one. Infelizmente, o show de caças da Força Aérea do Bahrain foi fraco e o tão esperado rasante do avião da Gulf Air não aconteceu. A pista do autódromo é nova, moderna e segura. Passei a corrida completamente perdida de quem era quem, nem ao menos as escuderias eu sabia direito. Só reconheci o Massa pelo seu capacete com as cores da nossa bandeira, mas não tinha a mínima idéia de qual posição ele se encontrava. Sem o protetor auricular, teria sido impossível assistir a corrida. O ronco da Ferrari deixará saudades, mas o sonhado pódio brasileiro não aconteceu.

Partimos deixando a ilha da fantasia para trás e antes de embarcar fomos cortejados pelo nascer do sol junto a mesquita do aeroporto de Dammam. Retornamos para Jeddah, na Arábia Saudita, onde o sabor do proibido será ainda mais gostoso.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Riyadh

Fui conhecer a capital da Arábia Saudita. Voei até Riyadh para providenciar meu visto de residente com múltiplas entradas e meu IQAMA (tipo um green card árabe). É uma cidade elegante, o design dos prédios é ultra moderno e a arquitetura é muito luxuosa. É bem mais limpa que Jeddah.

Alugamos um carro na locadora AL JAZIRA. O dono, um libanês, perguntou nossa nacionalidade e fez questão de nos atender pessoalmente. Tomei chá e conheci toda a sua família por fotos e vídeos. Nos convidou para as refeições em sua casa e ofereceu hospedagem em Beirut. Foi difícil ele nos deixar partir. Os brasileiros são muito bem quistos na Arábia Saudita. Viva o futebol e seus talentos.

Pegamos a auto estrada a fim de encontrarmos a Old Riyadh. A bateria do GPS havia acabado, a gasolina se aproximava da reserva, e o horário da reza e da sesta estavam por vir. O pavor repentino tomou conta do meu marido, e concordei, meio a contragosto, em dar meia volta e deixar esta missão para outra oportunidade.

Vi estrelas e fui aos céus visitando o suntuoso prédio THE KINGDOM em seus 297metros. Só a viagem a bordo do elevador já valeu o ingresso pago, a iluminação no interior da máquina lembrava pedrinhas de brilhantes. Caminhei na futurista SKY BRIDGE em seus 63,7metros de comprimento. Com permissão do segurança filipino, me joguei nas vidraças e me deitei em busca de uma foto menos formal. Uma pena a visibilidade estar ruim por causa da areia. Não renderam muitas fotos. O almoço foi na praça de alimentação, em um fast food árabe; e para fazer a digestão, um refrescante sorvete.

Fomos até a cidade diplomática, a fim de efetuar o nosso registro. A cidade é linda, super organizada, até mesmo as residências dos funcionários das embaixadas ficam em condomínios dentro desta cidade. Localizamos o Consulado Brasileiro, e depois de nossa identificação na portaria, recebemos um humilde e confortável BOA TARDE em português. Caminhamos ao redor do imponente prédio atrás de atendimento. Esbravejei que precisaríamos de cipó para escalar. Rimos. UFA! Conseguimos adentrar e fomos atendidos com a ajuda do porteiro. Deixamos fotos nossas e contato no Brasil em caso de algum acontecimento catastrófico, vai saber...

Riyadh tem a cultura muçulmana mais enraizada que Jeddah, é bem mais fechada . Aqui, os MUTAWAS (polícia religiosa), são presença constante em locais públicos. Assombram mulheres atrás de HARAMS (pecados). Castigam as que não cobrem os cabelos, dançam, se divertem... Já me descreveram como são estes religiosos, mas ainda não os encontrei. Uma brasileira, que estava com dois colegas de trabalho, foi pega por um MUTAWA no dia em que estávamos na capital. Eles foram presos, questionados e libertados, pois tinham influência, mas não escaparam da multa e da humilhação. Na Arábia Saudita a mulher só pode andar acompanhada do marido, do pai ou dos irmãos. Para mim, os MUTAWAS ainda são personagens fictícios em um mundo irreal. Ando com o véu por achar charmoso, mas também ando sem, pelas ruas e pelos shoppings procurando esta espécie em extinção. Gostaria que Allah (Deus) me desse a oportunidade de ver estes seres que estão se evaporando nos céus do deserto e tem os dias contados por aqui.

Allah-U-Akbar! Allah-U-Akbar! Allah-U-Akbar!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Primeiro mês em Jeddah

Já se passou um mês desde a minha chegada no deserto. Estou encantada com as comidas deste país e super curiosa lendo sobre a cultura e hábitos intrigantes deste povo. Na preparação dos pratos locais, muito grão de bico, beringela, coalhada, hortelã, carne de ovelha e carne moída. Mesmo os supermercados mais simples possuem moedores de carne HI TECH para vender. Sai mais barato comer em restaurantes locais do que cozinhar em casa. A rede de restaurantes, fast food e cafeterias americanas é muito farta, assim como outros restaurantes com decorações exóticas que eles tem por aqui. A maioria dos lugares provê lindos aparelhos para se fumar SHISHA (narguilé). É tudo de encher os olhos e a pança.

Aqui não existe carne de porco e derivados, e também não há nenhum tipo de bebida alcoólica para vender . A mulher não pode dirigir, nem mesmo as estrangeiras, assim como não pode muitas outras coisas. Diziam que eu não poderia sair sozinha na rua, mas logo percebi que isto não era bem assim, e passei a sair sozinha pra não depender tanto do meu marido e aproveitar melhor os dias vividos no Oriente Médio. Os dias não rendem muito, o comércio fecha ao meio dia para o almoço, e retorna a abrir só às 17hs. Além deste desperdício de horas, eles também fecham para rezar 5 vezes por dia, durante aproximadamente 30 min. Os horários são definidos de acordo com a posição solar. Logo que cheguei fiquei trancada em uma loja milionária no Red Sea Mall até a reza terminar, só depois eles voltaram a abrir as portas automáticas e pude, finalmente, sair. O final de semana na Arábia Saudita acontece nas quintas e sextas-feiras.

Felizmente, há aqui praias privativas para não muçulmanos, o que permitiu que eu me banhasse no refrescante e famoso Mar Vermelho. Foi uma sensação deliciosa! Como não estamos no ápice do verão, os dias tem sido frescos, em torno de 33 graus durante o dia e 26 durante a noite.

Vivemos dentro de um condomínio cercado por arames farpados e muros altos. Na entrada existem militares árabes equipados com metralhadoras em guaritas camufladas. Mesmo os automóveis dos moradores são revistados em busca de alguma possível bomba escondida. Nada de pânico, somente uma exigência do governo depois que três condomínios, na cidade de Riyadh, foram detonados por terrositas no ano de 2003. Na parte interna do complexo de moradas, temos uma ótima área verde, muitas piscinas, uma boa academia, restaurante, supermercado, quadras de tênnis, sauna, boliche profissional, escolinha infantil, playground, viveiros, joalheria, loja de tapetes, salão de beleza, agência de turismo…

Para o mundo muçulmano, a páscoa não existe, então, resolvi preparar chocolates e grandes brigadeiros decorados à moda pascal. Improvisei um belo ninho em um prato fundo e coloquei durante a madrugada na porta de um queridíssimo casal de vizinhos sul africanos. Mais tarde, encontramos na nossa porta uma embalagem que a “coelhinha” sul africana havia nos deixado. Nela, continha um presente mais que inusitado, uma garrafa de vinho tinto e uma de vinho branco que ela mesma havia preparado. Prometeu nos dar a receita e ensinar os segredos da preparação e sua fermentação, que gira em torno de 6 semanas. Tenho certeza que Jesus, juntamente com o grande amigo e profeta Maomé (Mohammed), estarão nos abençoando com muito pão e vinho em uma certa arábia. Dentro do compound temos uma vida normal, nada de abayas. Estas, eu deixo para usá-las por cima da roupa, quando saio um pouco da realidade ocidental e busco fantasiar uma outra forma de enxergar a realidade por trás dos negros véus.

sábado, 18 de abril de 2009

Uma Breve História

Este BLOG nasceu da minha necessidade em dividir minhas experiências neste mundo maluco, dinâmico e cheio de surpresas em que vivemos.
Sempre sonhei em morar fora do Brasil, mas achei que este grande sonho jamais fosse um dia tornar-se real.

Fui precoce e anarquista em muitas coisas, mas sempre com os pés grudados no chão. Em 1989, aos 14 anos, meus pais faleceram num intervalo de apenas um mês e vinte dias. Foi quando comecei a trabalhar sem parar na área imobiliária. Cheguei a pesar 100kilos. Fiz teatro amador e nunca deixei de sonhar e viajar pelo infinito.

Em 1996, minha irmã me apresentou o meu marido, e à partir daí, aquele rapaz de falas e gestos fortes, me conquistou completamente e não me largou mais. Namoramos, noivamos e casamos!
Como a vida é um baú medieval cheio de surpresas, em fevereiro de 2006 meu marido partiu de Porto Alegre para trabalhar em Taiwan. Fiquei resolvendo minha vida profissional e pessoal no Rio Grande, sofri, chorei e engordei 20kg. Meus irmãos me fortaleceram e apoiaram-me na decisão de mudar o curso de minha vida e seguir meu amor.

Fui visitá-lo em abril e depois em agosto para alugarmos o nosso novo lar chinês. Em outubro ele me buscou para irmos de malas, cuia e erva mate nas mãos. Lá estávamos nós morando na República Rebelde da China.

O tempo passa, o mundo gira e a nossa vida também!
No dia 16 de março de 2009, desembarquei no aeroporto da cidade de Jeddah, na Arábia Saudita, estava trajando uma belíssima abaya negra (vestimenta obrigatória para as mulheres) com um esvoaçante véu. Meu marido demorou um pouco até me localizar em meio a tantas mulheres vestidas de preto. O carrinho empilhado de malas coloridas e o meu sorriso largo de felicidade facilitaram o reconhecimento de nossa chegada. Gato Kimbah, agora com 10 anos, não poderia faltar, e também nos acompanhou em mais esta mudança. Achei que somente as suas cinzas, em uma caixa chinesa, retornariam de sua triunfal quarentena e estada asiática. Tola fui eu. Antes de irmos pra nossa casa árabe, passeamos pela Corniche Road (beira mar) e fomos a um supermercado local. Para variar, fiquei encantada com tantas novidades e apreciei o setor de pães, doces e especiarias.Voltarei sozinha para sentir todos os cheiros e tentar não perder nenhum detalhe.

Tenho certeza que a criação que ganhei dos meus pais foi o alicerce dos dias bem vividos de hoje. As viagens que fizemos a bordo dos traillers que tivemos, a vida nos acampamentos e os anos em que moramos no sítio na cidade de Viamão, fizeram com que eu sempre amasse as coisas diferentes que o mundo nos proporciona. Herdei do meu pai o espírito aventureiro e zombeteiro; da minha mãe, o gosto pela culinária e as habilidades manuais.

Obrigada à força estranha que nos move diariamente, obrigada por tudo que vivi e as coisas que aprendi. Obrigada também pelas coisas que ainda não aprendi, nunca é tarde para começar e tentar novamente. Com saúde e força de vontade se vai longe, se desmitifica o mundo e suas surpresas. Precisamos experimentar os sabores do mundo e saber o gostinho que ele tem.