quinta-feira, 23 de abril de 2009

Primeiro mês em Jeddah

Já se passou um mês desde a minha chegada no deserto. Estou encantada com as comidas deste país e super curiosa lendo sobre a cultura e hábitos intrigantes deste povo. Na preparação dos pratos locais, muito grão de bico, beringela, coalhada, hortelã, carne de ovelha e carne moída. Mesmo os supermercados mais simples possuem moedores de carne HI TECH para vender. Sai mais barato comer em restaurantes locais do que cozinhar em casa. A rede de restaurantes, fast food e cafeterias americanas é muito farta, assim como outros restaurantes com decorações exóticas que eles tem por aqui. A maioria dos lugares provê lindos aparelhos para se fumar SHISHA (narguilé). É tudo de encher os olhos e a pança.

Aqui não existe carne de porco e derivados, e também não há nenhum tipo de bebida alcoólica para vender . A mulher não pode dirigir, nem mesmo as estrangeiras, assim como não pode muitas outras coisas. Diziam que eu não poderia sair sozinha na rua, mas logo percebi que isto não era bem assim, e passei a sair sozinha pra não depender tanto do meu marido e aproveitar melhor os dias vividos no Oriente Médio. Os dias não rendem muito, o comércio fecha ao meio dia para o almoço, e retorna a abrir só às 17hs. Além deste desperdício de horas, eles também fecham para rezar 5 vezes por dia, durante aproximadamente 30 min. Os horários são definidos de acordo com a posição solar. Logo que cheguei fiquei trancada em uma loja milionária no Red Sea Mall até a reza terminar, só depois eles voltaram a abrir as portas automáticas e pude, finalmente, sair. O final de semana na Arábia Saudita acontece nas quintas e sextas-feiras.

Felizmente, há aqui praias privativas para não muçulmanos, o que permitiu que eu me banhasse no refrescante e famoso Mar Vermelho. Foi uma sensação deliciosa! Como não estamos no ápice do verão, os dias tem sido frescos, em torno de 33 graus durante o dia e 26 durante a noite.

Vivemos dentro de um condomínio cercado por arames farpados e muros altos. Na entrada existem militares árabes equipados com metralhadoras em guaritas camufladas. Mesmo os automóveis dos moradores são revistados em busca de alguma possível bomba escondida. Nada de pânico, somente uma exigência do governo depois que três condomínios, na cidade de Riyadh, foram detonados por terrositas no ano de 2003. Na parte interna do complexo de moradas, temos uma ótima área verde, muitas piscinas, uma boa academia, restaurante, supermercado, quadras de tênnis, sauna, boliche profissional, escolinha infantil, playground, viveiros, joalheria, loja de tapetes, salão de beleza, agência de turismo…

Para o mundo muçulmano, a páscoa não existe, então, resolvi preparar chocolates e grandes brigadeiros decorados à moda pascal. Improvisei um belo ninho em um prato fundo e coloquei durante a madrugada na porta de um queridíssimo casal de vizinhos sul africanos. Mais tarde, encontramos na nossa porta uma embalagem que a “coelhinha” sul africana havia nos deixado. Nela, continha um presente mais que inusitado, uma garrafa de vinho tinto e uma de vinho branco que ela mesma havia preparado. Prometeu nos dar a receita e ensinar os segredos da preparação e sua fermentação, que gira em torno de 6 semanas. Tenho certeza que Jesus, juntamente com o grande amigo e profeta Maomé (Mohammed), estarão nos abençoando com muito pão e vinho em uma certa arábia. Dentro do compound temos uma vida normal, nada de abayas. Estas, eu deixo para usá-las por cima da roupa, quando saio um pouco da realidade ocidental e busco fantasiar uma outra forma de enxergar a realidade por trás dos negros véus.

sábado, 18 de abril de 2009

Uma Breve História

Este BLOG nasceu da minha necessidade em dividir minhas experiências neste mundo maluco, dinâmico e cheio de surpresas em que vivemos.
Sempre sonhei em morar fora do Brasil, mas achei que este grande sonho jamais fosse um dia tornar-se real.

Fui precoce e anarquista em muitas coisas, mas sempre com os pés grudados no chão. Em 1989, aos 14 anos, meus pais faleceram num intervalo de apenas um mês e vinte dias. Foi quando comecei a trabalhar sem parar na área imobiliária. Cheguei a pesar 100kilos. Fiz teatro amador e nunca deixei de sonhar e viajar pelo infinito.

Em 1996, minha irmã me apresentou o meu marido, e à partir daí, aquele rapaz de falas e gestos fortes, me conquistou completamente e não me largou mais. Namoramos, noivamos e casamos!
Como a vida é um baú medieval cheio de surpresas, em fevereiro de 2006 meu marido partiu de Porto Alegre para trabalhar em Taiwan. Fiquei resolvendo minha vida profissional e pessoal no Rio Grande, sofri, chorei e engordei 20kg. Meus irmãos me fortaleceram e apoiaram-me na decisão de mudar o curso de minha vida e seguir meu amor.

Fui visitá-lo em abril e depois em agosto para alugarmos o nosso novo lar chinês. Em outubro ele me buscou para irmos de malas, cuia e erva mate nas mãos. Lá estávamos nós morando na República Rebelde da China.

O tempo passa, o mundo gira e a nossa vida também!
No dia 16 de março de 2009, desembarquei no aeroporto da cidade de Jeddah, na Arábia Saudita, estava trajando uma belíssima abaya negra (vestimenta obrigatória para as mulheres) com um esvoaçante véu. Meu marido demorou um pouco até me localizar em meio a tantas mulheres vestidas de preto. O carrinho empilhado de malas coloridas e o meu sorriso largo de felicidade facilitaram o reconhecimento de nossa chegada. Gato Kimbah, agora com 10 anos, não poderia faltar, e também nos acompanhou em mais esta mudança. Achei que somente as suas cinzas, em uma caixa chinesa, retornariam de sua triunfal quarentena e estada asiática. Tola fui eu. Antes de irmos pra nossa casa árabe, passeamos pela Corniche Road (beira mar) e fomos a um supermercado local. Para variar, fiquei encantada com tantas novidades e apreciei o setor de pães, doces e especiarias.Voltarei sozinha para sentir todos os cheiros e tentar não perder nenhum detalhe.

Tenho certeza que a criação que ganhei dos meus pais foi o alicerce dos dias bem vividos de hoje. As viagens que fizemos a bordo dos traillers que tivemos, a vida nos acampamentos e os anos em que moramos no sítio na cidade de Viamão, fizeram com que eu sempre amasse as coisas diferentes que o mundo nos proporciona. Herdei do meu pai o espírito aventureiro e zombeteiro; da minha mãe, o gosto pela culinária e as habilidades manuais.

Obrigada à força estranha que nos move diariamente, obrigada por tudo que vivi e as coisas que aprendi. Obrigada também pelas coisas que ainda não aprendi, nunca é tarde para começar e tentar novamente. Com saúde e força de vontade se vai longe, se desmitifica o mundo e suas surpresas. Precisamos experimentar os sabores do mundo e saber o gostinho que ele tem.