domingo, 16 de agosto de 2009

La Gruyère

A viagem gastronômica das férias encantadas está terminando. Elas fazem parte do pretérito suiço perfeito. A vida nada mais é que uma sequência de contos Era Uma Vez, que são escritos por nós diariamente e inclui tudo e todos que dão-lhe sabor.

Fomos passar o dia na cidade de Bex, subimos um bom trecho da rota das montanhas cruzando por rios e cachoeiras abençoados pela natureza do lugar. Almoçamos em um restaurante Bio, o La Soldanelle, e pedi um prato dos deuses. Rösti, também conhecida como Batata Suiça, que é uma deliciosa batata ralada, dourada e crocante. Meu pedido foi caprichado, com reforço de queijo e toucinho. DELÍCIA! Após a refeição, onde a sobremesa e o vinho facilitaram a digestão, continuamos subindo pela rota das montanhas nos Alpes Suiços. Alcançamos o Parque Grand Muveran com suas esplêndidas paisagens e um jardim botânico alpino, com espécies de plantas e flores das montanhas do mundo todo.

O passeio até Luzern (parte alemã da Suiça) também foi valioso. No caminho passamos por um belíssimo e grandioso estábulo todo envidraçado (até mesmo o telhado era de vidro) para que os animais possam admirar a vista ao redor. A cidade de Luzern é tão perfeita que mais parece uma maquete. Tudo muito limpo e lindo!

Tem um programa de culinária muito legal que fez parte do meu dia-a-dia suiço. Un Dîner Presque Parfait, um reality show, onde cinco participantes precisam preparar, em suas residências, um jantar completo aos demais concorrentes. Os próprios participantes é que desfrutam da noite e que dão as notas ao anfitrião no final do jantar. Notas de zero à dez, nos quesitos cardápio, ambiente e apresentação dos pratos. No final de cada semana são abertos os envelopes das notas para saber o vencedor. Fiquei viciada neste programinha de TV. Outro programa bacana de culinária é o Pique Assiette, onde a apresentadora, de uma forma bem humorada, prepara pratos coloridos, práticos e rápidos, inspirados fortemente na culinária mediterrânea.

Depois de comer muito blue berry, morangos e framboesas silvestres que eu mesma colhia na floresta (as mais saborosas e mais doces que já comi), chegou a hora de partir. Guardarei belas recordações das vaquinhas alimentando-se das flores coloridas da mística montanha e da música que seus sinos soavam aos meus ouvidos. Inesquecíveis fadas e borboletas que me fizeram boa companhia, esguios pinheiros guardiões da região encantada de Gruyères. Obrigada à vida por me dar a oportunidade de viver todos estes momentos maravilhosos e encantadores, que nos preenchem com abundância de alegria e amor.

Desejo voltar na primavera, no outono e no inverno!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Petit Sabores

Sempre que viajo a um determinado lugar, gosto de aproveitar ao máximo as delícias gastronômicas do local. Cada região tem suas especialidades, e é assim em qualquer canto do mundo. Sou uma glutona assumida, apaixonada pela culinária, principalmente pelos doces. Adoro um invento culinário, tornando-me algumas vezes uma ameaça ao paladar do meu marido.

Na suiça, hospedada na região de Gruyères, meus sentidos fizeram várias descobertas. Hóspede de uma cozinheira de mão cheia, que morou em vários países, aprendi novas receitas e grandes segredos. Nossas idas ao supermercado e lojas do ramo renderam muito. Com uma paciência de Jó, ela me explicava cada ingrediente e utensílio novo aos meus olhos. Fiquei tremendamente surpresa ao ver uma quantidade imensa de damascos frescos, que coisa mais linda. Delicados! Passava o dia saboreando-os. Sempre tive muita vontade de provar carne de cavalo, mas nunca pensei que fosse finalmente prová-la na Suiça, gostei bastante. Também experimentei interessantes saladas de raiz de salsão e raiz de funcho, bem comuns por lá.

Era uma vez uma cidade onde eram feitas nobres guloseimas e gulodices. Broc fica na Suiça e é uma cidade muito florida e graciosa com seus trens e trilhos enfeitando a cidade. La Maison Cailler é uma chocolaterie. Nesta fábrica de delícias o chocolate ainda é preparado com o leite fresco das vacas. A Cailler tem 190 anos de história e é uma linha requintada da Nestlé. Apenas pela degustação destes chocolates já vale a visita. Precisaria de mais algumas horas para realmente sentir e saborear todos os aromas. Um mais sensacional que o outro, ficou impossível provar todos. Estavam servindo na temperatura ambiente, perfeito para distinguir e apreciar os detalhes. Deleitei-me com os brancos, os amargos e os recheados, até derreterem completamente em minha boca. Adorei o pequeno museu, com as embalagens antigas que envolveram estas preciosidades ao longo de décadas. E, é claro, fiz comprinhas na loja da fábrica, mas somente artigos de primeira necessidade, pois não sou de ferro.

A visita interativa à fábrica do queijo Gruyère foi interessante, fiquei sabendo um pouco da história desta maravilha inventada há alguns séculos atrás. La Maison du Gruyère também possui um restaurante e uma loja com as delícias da região. Nos abastecemos e subimos em direção ao chalé nas montanhas.

O primeiro registro da Fondue na Suiça é do século XVII, quando as sobras de queijos eram armazenadas embebidas com Kirsch (aguardente de cereja), garantindo a durabilidade do alimento durante todo inverno. Hoje em dia ele é misturado ao vinho branco, mas se usa embeber um torrão de açucar cristal ou açucar mascavo na Kirsch e degustá-la entre uma garfada e outra. Ou ainda, para quem perder o pão dentro da panela, ter que tomar um “martelinho” da aguardente de cereja como “prenda”. Eu não perdi nenhum pão, mas adorei sentir o gosto da bebida contrastando com o queijo. Fiz ainda outra grande descoberta, descobri que sou apaixonada pela Raclette (batata com queijo derretido), e comprei os acessórios que faltavam para juntar-se ao aparelho que temos no Brasil e que até hoje não foi usado. Prepararei excelentes Raclettes aos nossos convidados, com direito a todas as pompas suiças.

PETIT SUISSE, PETIT GATEAU, PETIT SABORES, PETIT AMORES!

sábado, 8 de agosto de 2009

Verão Suiço

Acordar ao som dos sinos que envolvem o pescoço das vaquinhas suiças é coisa muito boa. Elas pastam tranquilamente e ruminam sem pressa as plantas e flores das montanhas. Na mesa do café da manhã admiro este cenário que me transmite grande paz interior. As montanhas suiças reservam agradáveis surpresas, principalmente tendo a oportunidade de passar vários dias caminhando por elas.

Com saudades do friozinho gostoso do Rio Grande do Sul, pegamos o funicular na base do Molèson até alcançar o Plan Francey a uma altura de 1.056 metros. Observando a fantástica vista e a luxuriante vegetação, embarcamos no cable car até alcançar o cume da montanha. No topo, a uma altura de 2.002 metros, avistei ao longe os Alpes Berneses e o Mont Blanc com suas neves eternas. Para uma típica refeição suiça, almoçamos no restaurante panorâmico: queijos, vinho rouge e meringues et crème de la Gruyère. Com a vista alucinante dos Alpes ao fundo, recebia de minha anfitriã aula sobre os encantos da culinária suiça.

O distrito de Gruyères (que leva “s”na escrita), região famosa por seu castelo e pelo queijo Gruyère (que não leva “s”na escrita), esconde muitos contos e lendas. Um lugar onde tudo é lindo, gostoso e charmoso. O nome Gruyères vem da ave grua, estampada graciosamente na bandeira local e enfeitando grande parte do lugar e dos objetos. O lugarejo medieval de Gruyères, fechado com muros, é um lugar perfeito para voltar no tempo. Caminhei pela única rua do lugar apreciando a beleza das casas antigas com suas janelas floridas. Restaurantes, hoteis e lojinhas ocupam o interior das casas. Lá no final da rua, onde termina a pequenina cidade, um castelo do século XIII, é o Château de Gruyères. Na volta, descendo rua abaixo pelo romântico e pequeno lugar, fui abduzida até as janelas de um bar. Fiquei hipnotizada e entrei para beber algo. Quando dei-me por conta, estava na garganta de um monstro gigante, sentada na espinha de um bixo estranho. O bar do Alien, ou melhor, o HR GIGER Museum Bar, é de propriedade do suiço HR Giger, criador do alienígina do filme ALIEN, entre outras obras surrealistas.

Montreux, cidade internacional da música, patrimônio da humanidade pela unesco, com plantações de videiras de um verde intenso, é uma cidade fascinante. Fazer um passeio no fim de tarde às margens do Lac Léman (lago de Genebra) e sentar em um dos bancos para tomar sorvete vendo o povo passar e banhar-se em suas águas é bacana. Os patos do lago fazem a festa junto das mulheres que tomam sol e fazem topless. Não é a toa que o lugar leva o título de Riviera Suiça. Ao longe, alheio a tudo, o imponente castelo de Chillon compõe a vista, enquanto a estátua de Freddy Mercury canta empolgada na beira do lago.

As estradas na Suiça são excelentes e fica fácil circular de carro. Nesta época de férias de verão, os trailers e motor homes invadem as estradas e parques em todo país. Tudo é ecologicamente correto e impecável. A natureza na Suiça é formidável!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Suiça Encantada

Sabe aquelas pessoas que transmitem uma afinidade infinita em nossas vidas? Pois é, Allah enviou-me uma destas jóias para iluminar minha trajetória pelo deserto. Esta amiga iluminada foi passar as férias de verão em seu chalé suiço, e deixou Nougat, sete anos de idade, gata de estimação de sua família, sob nossos cuidados, na nossa residência em Jeddah. Acontece que Kimbah, nosso gato de estimação de 10 anos de idade, foi rejeitado pela gatinha Nougat, tornando a convivência entre ambos bastante tensa em nosso lar.

Certa noite, saímos para jantar na casa de uns amigos na área do condomínio e, ao voltar, vendo as cortinas esvoaçantes pela porta da varanda, dei-me conta que havia esquecido a porta aberta. O que que aconteceu?! Gata Nougat havia desaparecido!! Meu marido e eu passamos parte da noite procurando-a com lanterna pelos intermináveis canteiros, piscinas e ruas do compound. Usamos várias táticas, todas em vão. As buscas iniciaram novamente ao raiar do dia. Cansada de tanto procurar Gata Nougat e já com a esperança esvaindo-se pelas minhas mãos, retornei para casa. Foi quando entre uma peça e outra, em um piscar de olhos, deparei-me com Gata Nougat, deitada em sua caminha, ofegante, após passar a noite na farra.

Só sei que escapei de relance. Por pouco não perdi minhas férias nos Alpes Suiços, programada para os dias que estavam por vir. Mas não! MERCI ALLAH! E como acontece em todo conto de fadas, desembarquei no aeroporto de Genebra, na Suiça, sendo o vigésimo-quinto país que a varinha mágica me permitiu conquistar entre tantas idas e vindas. Cheguei com um lindo dia de sol, cruzei pelas estradas em meio às alegres plantações de girassóis, de suculentas maçãs, de belas videiras,... Rumei ao interior da parte francesa da suiça, no cantão (estado) de Fribourg, até encontrar o chalé situado nas montanhas de Moléson na região encantada de Gruyères, dando origem a uma sequência de contos da série Era Uma Vez...

sábado, 1 de agosto de 2009

QUÉOPS, QUÉFREN E A ESFINGE GUARDIÃ

Em um dia ensolarado e quente, chegamos pela manhã ao planalto de Gizé para apreciar de perto a geometria das pirâmides enigmáticas de Quéops, Quéfren e Miquerinos. Que coisa boa poder recuperar as aulas de história que foram gazeadas durante o colégio. É um privilégio desbravar esta cultura interminável com meus próprios olhos e através de meus passos. A Esfinge e as pirâmides, que sempre sonhei em visitar, estavam agora aos meus pés. Os faraós alcançaram seu objetivo, ficaram para eternidade. Já na entrada fizemos a compra dos tickets para visitar o interior das pirâmides. Afinal, já que viemos até aqui, necessitava sentir o peso e a vibração delas sob meus ombros. O acesso à câmara mortuária do antigo faraó é feito através de um corredor claustrofóbico, extremamente quente, com oxigênio reduzido e tem-se que andar agachado por mais de 50 metros até à câmara. Mesmo deparando-me, no final, com uma tumba vazia e sem múmias, valeu muito a pena. Para deixar o passeio completo, montamos em um camelo adornado e andamos na região do Planalto de Gizé. Esqueci completamente que estava no meio da cidade, mesmo avistando os prédios da cidade do Cairo à minha volta.

Conhecemos as cidades milenares de Mênfis e Saqqara, e percorremos as matas repletas de tamareiras carregadas de frutos que aguardavam a época da colheita. Depois de passar o dia nestas incansáveis andanças, curtimos o pôr do sol em um agradável restaurante flutuante sobre as águas do Rio Nilo. PERFEITO!

A visita ao Egyptian Museum foi frustante em vários sentidos, a parte interna do prédio está em péssimo estado de conservação e o ar condicinado é péssimo. Terrível! Acabamos fazendo várias brincadeiras e palhaçadas com as peças do museu, deixando a visita um pouco mais agradável. Para completar, a loja de souvenirs do museu estava fechada. Após o museu mudar-se para o novo e moderno prédio (já em construção), tudo ficará melhor.

O turismo no Cairo não é feito só da Esfinge e das pirâmides de Gizé, embora sejam estas a principal atração. Sensacional admirá-las à noite, durante o show de som e luz, narrado pelo ícone do cinema Omar Shariff. Demos sorte ao escolher o primeiro horário das apresentações. Além das fotos, curtimos o cair da noite tendo como cenário as pirâmides faraônicas ao fundo.

Vasculhamos desde cedo as ruas e labirintos do Bazar Khan al-Khalili (1.382 d.C.). Somente após cansativas e cômicas negociações conseguimos realizar boas compras. Muito desagradável são os olhares dos homens em todo o Egito, maior ainda nas ruas do mercado. Várias vezes meu marido teve vontade de cobrir-me com a abaya, evitando assim os ollhares e comentários. Entramos para conhecer a madrassa de Al-Ghouri, mesquita e antigo colégio muçulmano. Tivemos sorte de ser recepcionados por um funcionário que gentilmente nos perguntou se gostaríamos de subrir até o topo da mesquita. CLARO QUE SIM! Temi cruzar com morcegos pelo trajeto. Atravessamos o breu total até alcançarmos o famoso topo do minarete axadrezado de vermelho. BACANÉRRIMO!

Depois de um dia de andanças aos arredores do Bazar Medieval, fizemos um passeio à bordo de uma felucca pelas águas do Rio Nilo. Alugamos o barco à vela por duas horas, exclusivamente para nós, e pagamos barato por isso. Pedi ao capitão música durante o lento passeio, e ele colocou som árabe, me dando vontade de sair dançando. Despreocupadamente, sentei-me na proa da felucca e curti a vista, a brisa e o sol. Acumulei energia durante toda a estada no lendário país dos faraós e parti revigorada. Anseio voltar para mais algumas peregrinações.