domingo, 31 de janeiro de 2010

Brasil com Pit Stop Germânico

Minha ida ao Brasil no final de 2009 estava programada, por vezes foi cancelada, e no final do segundo tempo acabou acontecendo. É um ritual ir ao Brasil. Fico bastante eufôrica para rever minhas amigas e meus irmãos mais uma vez. Nas malas, muitos presentes cruzam continentes para agraciar meus entes queridos e compensar minha distância entre oceanos. É época de Natal!

Meu marido meu deixou no aeroporto internacional King Abdul Aziz, na Arábia Saudita, três horas antes do voo decolar. Por ser a época da peregrinação dos muçulmanos à Meca, o movimento no aeroporto estava além do normal. Todo ano, quatro milhões de muçulmanos viajam a Meca para realizar esta peregrinação anual, chamada de Hajj. Vão até Caaba para beijar e dar várias voltas ao redor da pedra preta que tem quatro mil anos. Ao término da peregrinação, os religiosos ainda sacrificam um cordeiro para cumprir este ritual de intensa fé islâmica. Os peregrinos, homens nús, envoltos em toalhas brancas sem costura e fixas ao corpo por um cinturão branco, circulam pelo aeroporto. Despacham, entre suas bagagens, galões das águas sagradas do poço de ZAM-ZAM. Verdadeiras caricaturas que parecem ter saído dos livros de história.

Na sala de embarque, encontrei uma poltrona perdida em meio à multidão. Rabiscava em meu caderninho de anotações enquanto aguardava a chamada do voo LH 597 rumo à Frankfurt. Meu olfato apurou fortes cheiros e tentei adivinhar quanto tempo as pessoas ao meu lado e suas vestimentas não se refrescam em água e sabão. Muitos destes são idosos que juntaram o dinheiro de uma vida toda para cumprir um dos cinco pilares do Islã, que é a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida. Os membros da família real, que não são poucos (em torno de cinco mil pessoas), nem ousam passar por aqui. Utilizam o Terminal Real, um prédio majestoso com entrada particular e todas as mordomias inimagináveis. Minhas narinas me trouxeram de volta à realidade e embarquei no voo da Lufthansa em meio aos passageiros que em sua maioria era feita de muçulmanos. Prova viva que o islamismo está mesmo dominando a fé mundial.

Já em Frankfurt, comprei o ticket e fui para a estação esperar o trem que partiria em poucos minutos para a cidade alemã de Wiesbaden. Eram nove horas da manhã, o dia estava cinzento e os termômetros marcavam seis graus celsius. O trem deslizava vagarosamente em seus trilhos e o vento gelado entrava por uma das janelas. As árvores sem suas folhas acobreadas e as casas tipicamente germânicas me trouxeram boas lembranças destes lugares que outras vezes passei. A estação de trem de Wiesbaden, assim como as ruas do lugar, são bucolicamente elegantes. As lojas e o calçadão do centro da cidade emanavam decorações natalinas e vendiam árvores e guirlandas naturais que recendinham a pinheiro verdinho recém cortado. Junto à bela arquitetura da prefeitura e da igreja da cidade, acontecia a feira de Natal. Muitos estandes de artesanato, apresentações ao vivo e comida tradicional alemã. Perambulei incansavelmente em meio às tendas e fui atraída pelo cheiro de vinho de uma delas. Comprei uma caneca fumegante com GLÜHWEIN, uma espécie de quentão alemão. Vinho com cachaça, nós moscada, cardamomo, passas, cravo e canela. Continuei a trabalhar meu paladar e em outra tenda comprei salsichas condimentadas. Mais tarde também provei o KARTOFFELPUFFER, que são panquecas de batata com molho de maçã.

É chegada a hora de voltar ao aeroporto para seguir viagem até o meu destino final, o Brasil. Comprei o ticket certo, porém embarquei no trem errado. Quanto fui me dar conta estava em uma cidade estranha, bem distante do meu objetivo, o aeroporto. Tive que pegar cinco trens até avistar a estação correta. Entrei em todos eles sem pagar, torcendo que nenhum fiscal solicitasse o meu bilhete. Eu parecia o cavalinho de madeira dos carrosséis que giravam, subiam e desciam colorindo a feira de Natal. Afinal de contas, o espírito natalino também foi feito para cometermos presepadas.