domingo, 29 de novembro de 2009

Coisas das Arábias

O Reino da Arábia Saudita é o maior país árabe; grande parte dele é só deserto. Jeddah é uma cidade muito rica onde paga-se zero de impostos. A lingua oficial é o árabe mas existe boa vontade por parte do povo para se fazer entender quando o inglês falha ou quando não existe. Algumas vezes me comuniquei através de mímica e adivinhações. Em uma tarde quente de verão, a comunicação falhou com o açogueiro do supermercado Al Raya. Eu só queria saber se a carne ofertada era de ovelha. Apontei para a peça de carne suspeita e soltei um balido com um sonoro mééé. Além do atendente esclarecer minha dúvida ainda caímos na risada.

O valor dos automóveis na Arábia Saudita é bem menor que no Brasil. Carros novos, grandes, espaçosos e luxuosos transitam pelas ruas do país. Ter um carro grande é artigo de primeira necessidade, já que os árabes precisam transportar suas populosas famílias compostas de mais de uma esposa e muitos filhos. Curioso é que os proprietários destes veículos não retiram o plástico dos bancos quando saem das lojas. O interior do automóvel fica protegido com estes plásticos por anos. Depois de se estragarem são substituídos por plásticos novos, alguns mais resistentes. Provavelmente assim eles sentem-se mais à vontade para sujar os carros sem dó algum.

Tenho verdadeira aversão por passar roupa. E evitando passar por este tipo de trabalho forçado em solo arábico, não me dei nem mesmo ao trabalho de adquirir um ferro e uma tábua de passar roupas. Existem lavanderias aos borbotões em Jeddah. Por um preço módico as roupas voltam limpas e super bem passadas em cabides que vão diretamente ao armário. Uma glória! Detesto passar roupas assim como detesto varal de roupas. Da máquina de lavar as roupas deveriam tomar o rumo da máquina de secar. Para a alegria das donas de casa, máquinas revolucionárias de lavar e secar dois em um já circulam nas lojas e lares do mundo com valores cada dia mais acessíveis. Outra glória!

Os salões turcos para o público masculino cortar o cabelo e aparar a barba em estilo Maomé também existem em abundância pela cidade e são muito bons. Durante as rezas, e do meio dia às 17hs, eles fecham suas portas e não atendem ninguém, assim como o restante do comércio. O grande movimento acaba sendo no período na noite, após a última reza, chamada de isha. A cidade fica muito movimentada e o trânsito tremendamente caótico após a isha. Não tem jeito! A cidade para cinco vezes ao dia para escutar o maior hit das arábias. O som sai dos alto-falantes instalados nos minaretes das mesquitas e pelos meios de comunicação do país. A reza lidera o top ten nas Arábias!

Os sauditas não gostam muito de trabalhar. Ganham a vida com a mão-de-obra do trabalho de outras nacionalidades. Todo negócio tem que ter, obrigatoriamente, um sócio e um percentual de funcionários sauditas. A maioria destes sauditas nem aparece para trabalhar, mas nunca deixam de receber seus pagamentos. Pessoas dos mais diversos países trabalham na Arábia Saudita. Nacionalidades que minha geografia limitada não imaginava existir, não ousava conhecer. O mundo é infinito dentro do inimaginável. Verdadeiras realidades irreais!

domingo, 15 de novembro de 2009

Comer, Beber, Viver!

Aprendi rapidamente a amar Jeddah. Largas avenidas com casas majestosas. Comida deliciosa, sucos exóticos e coloridos. Uma cultura diferente que é interessante conhecer, um lugar onde é fácil viver. Sigo os dias comendo, bebendo e vivendo!

Acho uma gracinha os carrinhos que ficam nas ruas e calçadas para o lixo ser colocado. Na cor magenta, eles colorem a cidade e são da mesma cor do uniforme macacão dos garis que tentam manter a limpeza. Já os trabalhadores que cuidam dos canteiros e jardinagem das praças, usam o mesmo modelito profissional, porém são na cor verde.

Diversas cafeterias enfeitam as avenidas e os centros comerciais. O café, cujo nome científico é Coffea Arábica (mesmo tendo origem africana), se adaptou muito bem quando veio para a arábia no século XV. Neste passado meio distante, os frutos do cafeeiro eram assados na gordura e comidos com açucar. A infusão dos grãos teve início no século XVI em Meca e Medina, cidades sagradas e vizinhas da amada Jeddah. A partir daí, passou a ser difundida no ocidente. Sento confortavelmente na poltrona do Barnie’s, do Starbucks, do Costa Coffee, do Second Cup e do The Coffee Bean para assistir ao desfile de abayas negras e de thobes brancos enquanto provo cafés quentes e gelados. Como as mulheres de abaya e os homens de thobe (vestimenta tradicional dos homens sauditas) são tremendamente preguiçosos, as cafeterias mantém centenas de pequeninos pontos com sistema de drive thru. Tenho um amor especial por duas casas de café na Arábia Saudita. Cobertos de sabor bairrista, o Café Tche e o Café Larica são os mais sensacionais para mim.

Os dias passam rapidamente e os segundos parecem acompanhar a velocidade da luz. Criam-se novos laços de amizade e alguns se perdem. Ganho novos amigos, o círculo social floresce e muitos eventos aparecem. Certa noite, empolgada depois de beber algumas taças do vinho artesanal por mim produzido, saí com meu marido rumo à festa de aniversário de uma amiga brasileira em outro condomínio. No meio do caminho, me dei conta que havia saído sem a abaya (vestimenta obrigatória para as mulheres andarem na rua). Sob o olhar perplexo de alguns, chegamos ao nosso destino. Sem transtornos! Adentrei no local da festa com um bolo amarelo em mãos. Ele fora elaborado por mim, e estava enfeitado com graciosas margaridas e flores encarnadas feitas de açúcar. Eis que surge uma simpática portuguesa, chegada a um mês de Lisboa, perguntando-me se a tal Xoxa das Arábias era eu. Ela localizou o blog através do google, a alguns meses atrás, quando buscava informações sobre a vida na cidade de Jeddah. Fiquei toda boba, lisonjeada. Senti sabor semelhante quando recebi encomendas de docinhos e realizei minha primeira entrega de brigadeiros e beijinhos a uma moçambicana.

Os indianos acreditavam que o açucar teria sido criado por Vishwamitra, para alimentar os deuses. Alexandre, o Grande, definiu o açucar como “um mel sólido, obtido sem o auxílio das abelhas”. A beleza da vida é cheia de deuses açucarados. Feita de fatos rotineiros que nos fazem existir com maior plenitude, com doçura. Preciso desta felicidade transcendente para viver! Assim como motivos para continuar os dias comendo e bebendo; com os olhos, o nariz e a boca.

domingo, 1 de novembro de 2009

Pedras de Petra

Amman, capital da Jordânia, superou minhas expectativas. Ela é relativamente limpa e organizada e a vegetação repleta de belos pinheiros. As casas e os prédios apresentam um padrão em suas fachadas com revestimento de pedras esbranquiçadas, e lindamente contrastam com o verde intenso dos pinus. Andar de taxi por Amman sai muito barato, mas você deve pegar os automóveis de cor amarela, que são os que usam o taxímetro.

Pegamos um veículo amarelado e pedimos ao motorista que nos deixasse na rodoviária. Durante toda a manhã, ônibus saem da rodoviária em direção a Petra. A passagem custa cinco Jordanian Dinars (JD) mas com insistência e bom choro sai por três Dinars. Detalhe: o ônibus só parte depois que enche. Árabes com roupas típicas, mulheres cobertas, crianças aos prantos, e um cidadão que fumava sem parar, preencheram os assentos. O ônibus partiu depois de duas horas de espera. Aleluia! O percurso até a cidade de Petra foi feito em quatro horas. As plantações de oliveiras e os rebanhos de cabras coloriram o visual durante o trajeto.

Fizemos o check-in em um hotel de baixo custo escolhido pela internet. Nos aprumamos até a entrada do parque arqueológico, à trezentos metros do hotel. Você tem a opção de comprar o ticket para um, dois ou três dias. Vale a pena passar mais de um dia caminhando e escalando as pedras históricas do lugar. Existem carruagens, cavalos, camelos e jumentos (animais bonitos e bem tratatos) que podem ser contratados. Mas negocie o valor. Petra, que significa pedra em grego, é considereda uma das Sete Maravilhas do Mundo Novo e Patrimônio Mundial da Unesco. A cidade teve grande importância no comércio mundial e serviu de rota comercial bem antes do profeta Jesus nascer. Habitada pelo povo Nabateus, foi destruída por um terremoto em 551d.c., e redescoberta em 1812 por um europeu.

Ainda estávamos no interior do parque quando a noite caiu, foram seis horas explorando os cantos do desfiladeiro. Ficamos encantados com os monumentos escavados nas rochas. Foi o tempo de tomar uma ducha e partir novamente para ver o espetáculo de velas iluminando o lugar. O Candlelight Show acontece três vezes por semana. O público caminha uma hora e meia entre milhares de velas até o templo principal (Al-Khazneh). É importante realizar a empreitada de tênnis, pois na escuridão, as pedras e os buracos também são pardos. Ao chegarmos na Câmara do Tesouro, nos acomodamos em tapetes estilo “voador” e fomos agraciados com um delicioso chá de lemongrasss acompanhado pelas velas, as estrelas e um lindo luar.

Acordamos cedo no outro dia e continuamos a peregrinação para desvendarmos os fascínios das pedras de Petra. Em alguns pontos que se fez necessário repetir as passagens, vimos de outro prisma. A cidade rosa de Petra é encantadora em cada segundo, uma beleza ímpar em cada horário. O lugar agracia os nossos olhos e faz jus ao título de maravilha mundial.

Adoro fazer viagens; para qualquer destino, a qualquer momento e em qualquer situação. Não sou muito ligada a comodismos, mas confesso que também gosto das regalias dos hoteis estrelados. Partimos satisfeitos depois de realizarmos a última cruzada. Voltamos ao conforto do lar saudita, pois voltar para casa também é sempre muito bom.