terça-feira, 23 de março de 2010

Um ano em Jeddah

Está fazendo um ano que fixei residência no Reino da Arábia Saudita, na cidade de Jeddah. Muitos achavam e talvez continuem achando um grande delírio morar neste país de religião e cultura excêntricas. Eu estou amando passar por esta experiência e poder viver neste lugar que difere-se do mundo ocidental em muitas coisas. Uma oportunidade única! Kimbah, nosso filho felino, também está amando. Ele passou de um reles bicho vivo de pelúcia de apê para um gato rueiro e apaixonado. O Gato está se sentindo um tigre nas Arábias. A família segue feliz vivendo pelo Oriente Médio... Meu marido, mais do que nunca, diz que o mundo se divide em dois: o mundo ocidental, e o resto.

Por incrível que possa parecer, Jeddah é uma cidade arborizada e florida. Frondosas flamboaiãs, palmeiras, coqueiros e muitas tamareiras contrastam com a paisagem do deserto e as águas do Mar Vermelho. Além do sistema de irrigação instalado nas áreas de lazer espalhadas pela cidade, caminhões-pipa dão de beber às flores e árvores que desabrocham e florescem nos canteiros das grandes avenidas. Poucas ruas possuem nomes, somente as principais, e não existe numeração nos prédios. Você deve procurar endereços por referências. Com o passar dos meses a desorganização passa a ser comum e você acaba acostumando-se com a idéia e achando o que procura. A pessoa que pretende receber algo pelo correio, até mesmo uma simples fatura de cartão de crédito, deve procurar os correios e alugar uma caixa postal. Organizamos nossas saídas de casa com base no horário das rezas, já que são cinco rezas diárias e todo o comércio fecha por aproximadamente trinta minutos. Nos supermercados, eles anunciam que a reza vai começar e você tem que correr até o caixa mais próximo para passar suas compras, ou terá que esperar a reza terminar. Percebi que meu marido passou a gostar de irmos próximo destes horários. Neste caso, não consigo concluir a compra de todos os meus desejos insanos e o valor da conta acaba sendo mais baixo.

Li e escutei muitas histórias a respeito dos costumes antes de virmos para cá. A fatura do cartão de crédito chega em números árabes e vem com a data do vencimento de acordo com o calendário lunar, deixando sua decifração quase impossível até mesmo para os habitantes do planeta árabe. As vezes, quando mulheres andam desacompanhadas, alguns árabes gostam de espichar o olhar, principalmente para estrangeiras com cabelo descoberto. Mas também não dou chance ao azar. Uma vez fui perseguida em um shopping da cidade por um destes arabinhos devidamente fardados. Deixei o senhor gordo de meia idade zonzo e despistei-o em uma loja que possui sistema de escadas rolantes em seu interior. Todos os outros acontecimentos neste sentido são de pouca importância e não passam de olhares curiosos de um povo que foi, e continua sendo, criado e educado com base nas interpretações distorcidas do Livro Sagrado do Islamismo, o Alcorão. Alguns jovens que tiveram dinheiro para estudar nos Estados Unidos ou na Europa, parecem pensar um pouco diferente. As vezes, parece que a nova geração vai parar de seguir o calendário lunar lunático e passar a seguir o calendário gregoriano, como fazem a maioria dos simples mortais.

O que uma sociedade acha estranho, a outra pode achar como sendo normal. No transcorrer deste ano que passou, vivendo delirantemente por estas bandas do globo terrestre, aprendi coisas novas e enriqueci meus pensamentos. Fiquei um ano mais velha, cresci por dentro e alimentei a alma da criança que ainda existe dentro de mim, que não faz muita questão de virar adulta nem tão pouco envelhecer.

2 comentários:

  1. Amei....
    Parabéns a esse blog maravilhoso!!! 1 ano... como passa rapido, mas com tantas informações ele parece ate mais velho!! rss
    como tu escreve bem tica... maravilhosa em tudo e em tudo o que faz!!
    bjs e muitas saudades Anonima Aline

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  2. Não dá para descrever a sensação de ver estas fotos!!! È Surreal.Parabéns!

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